01 junho 2014

Agradável e pouco agradável

Conta-me José Manuel Fernandes do Observador que "uma rapariga de 15 anos que, mesmo depois de fazer queixa, mesmo depois de mudar de escola, continua a ser vítima de abusos sexuais. Passa-se na Margem Sul do Tejo e o caso foi contado por Sílvia Caneco no jornal i."Conta-me ainda que há "um Portugal que raramente chega às páginas dos jornais e aos ecrãs de televisão," na opinião dele "este texto leva-nos a conhecer um porco desse país, um país cruel e pouco agradável de conhecer."

A primeira vez que ´é vitima remonta há um ano. Agora, "passou mais de um mês desde o último episódio e a adolescente está trancada em casa, anichada na cama, debaixo de comprimidos de adultos. Nas piores fases, foram sete: o suficiente para adormecer nas aulas, quando ainda conseguia ir. Quase não come. Só dorme agarrada à mãe. Só sai à rua com a mãe e com o pai. Está sem telemóvel, sem Facebook. Não vai almoçar com as amigas, não vai ao cinema. Não veste calções nem saias curtas, não mostra a barriga. "Se visto aí é que me chamam mesmo pê." Das poucas vezes em que fala, desabafa coisas como: "Eles têm-me tanto ódio que qualquer dia dão-me um tiro na rua e ninguém vai saber quem foi e onde estou." Às vezes, diz que se arrepende de ter denunciado. Para quê se é a única que tem de se esconder?"
Só agora os presumíveis autores foram detidos.


Pense-se no recente caso do fugitivo e homicida de São João da Pesqueira, em fuga durante um mês, por alegadamente ter baleado fatalmente a ex-sogra e uma outra mulher e ter ferido a antiga companheira, filha de ambos. Com dificuldade em compará-los, mesmo que o caso da área metropolitana lisboeta seja tão hediondo como o praticado pelo "nosso" Palito de Valongo de Azeites, a natureza é diversa porque estou certo de que o abuso sexual de menores deverá ter a discrição necessária por parte dos órgãos da comunicação social e das redes sociais. Sabemos também que a atenção ao(s) criminoso(s) não exclui as vítimas do olhar que obriga à reserva e à contenção voyeurista. Sirvamo-nos deles apenas pela atualidade, como mero exemplo, a par de outros que poderiam também servir.  

Na comunicação social, desde os programas "gouchianos" até aos debates mais ou menos sérios, o "nosso" Manuel foi presença quase diária. Tido como criminoso implacável, passou a ser incluído no anedotário nacional pelas artes de se manter escondido, para outros foi um herói e teve honras de página no facebook com centenas de seguidores, porque por manhas e patranhas escapou durante um longo mês ao braço da lei e à vista de quase todos, excluindo os “amigos” padeiro e pastor.

Um passa-se na província pitoresca, "um Portugal que raramente chega às páginas dos jornais" mas, quando há crime ou miséria alheia, aí sim! Vende... O(s) outro(s) na grande cidade, um Portugal que está sempre nas páginas dos jornais pelos grandes atos civilizacionais, a política, a arte, o futebol, a socialite... e só muito depois, também pela miséria humana que, quando amplificada, rapidamente se escoa tal como a areia por entre os dedos, porque "não é agradável de conhecer", não vende.

2 comentários:

mario carvalho disse...

Além do agradável , pouco agradável... agora temos o desagradável...e macabro!!!!

perdoa-lhes S. Antão da barca.

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=678054&tm=8&layout=122&visual=61

mario carvalho disse...

https://www.youtube.com/watch?v=iAw4e4ibuXw

a tragédia,,, National Geograpic