07 fevereiro 2014

O TUA DE NOVO EM QUESTÃO - Opinião Mário Soares - DN

O TUA DE NOVO EM QUESTÃO
Tive o prazer de conversar recentemente com o académico e militante das questões ambientais Joanaz de Melo. Fizemos uma "Presidência Aberta sobre o ambiente" - onde isso vai - e, desde então, ficámos amigos. Veio alertar-me mais uma vez para o Tua e a destruição iminente do vale do Tua, um dos últimos rios da Europa em estado natural e um dos mais belos de Portugal.
Tem isso que ver, mais uma vez, com a tentativa de construir uma barragem que não faz sentido, segundo ele, porque, na melhor das hipóteses, contribuiria apenas com 0,1% da energia do País.
A criação da barragem serve sempre, do ponto de vista monetário, aqueles que a constroem. E de que maneira. Tem sido sempre um excelente negócio a favor das grandes construtoras e da banca.
Os ecologistas estão a organizar-se através de um manifesto intitulado Vamos Salvar o Tua. Em favor do turismo e da linha ferroviária centenária do Tua, que, como se sabe, desagua no Douro, com a consequente destruição dos solos agrícolas e habitats ribeirinhos raros, pondo em risco espécies ameaçadas e protegidas.
Triste País, em que hoje tudo o que interessa ao Governo são os negócios, vendendo o património e destruindo as nossas belas paisagens.
Grande Obama - Opinião - DN

2 comentários:

mario carvalho disse...


http://www.publico.pt/cultura/noticia/a-que-proposito-andamos-nos-preocupados-com-miro-1622639




E citando Eurico de Barros:

"Um dos maiores defeitos dos portugueses - e de que padecem incomensuravelmente os políticos portugueses - é terem a memória curta. Em 2005, quando era governo, o mesmo PS que hoje rasga as vestes de indignação por causa dos Miró, deixou sair de Portugal a Colecção Champalimaud, de que faziam parte telas de artistas como Canaletto, Fragonard, Guardi, Boucher, e que foi direitinha para Londres, ser leiloada... na Christie´s. A justificação do Ministério da Cultura, de Isabel Pires de Lima, através do Instituto Português de Museus (IPM), foi esta: «A saída da colecção de Portugal foi autorizada pelo Instituto Português de Museus, com a justificação de que a sua exportação não podia ser evitada, uma vez que as peças são estrangeiras e foram compradas há menos de 50 anos.» E a aquisição, pelo Estado, de um precioso Canaletto (na foto) que acabaria por ser licitado por 16 milhões e 800 mil euros, foi secamente considerada "não prioritária" pelo mesmo IPM. À tropa de choque cultural do PS, liderada pela menina Medeiros e pela D. Canavilhas, aconselho, portanto, menos banzé e mais suplementos para a memória. (E ainda: nessa altura, não houve petições, providências cautelares nem virgens ofendidas nas televisões)."

...

Comentário meu.. estas mesmas "meninas", com responsabilidades na cultura e no património no tempo do filósofo português( o tal que antes de o ser (Paris) já o era), consideraram a linha do tua como sucata ...sem sequer a conhecerem, nem saber onde ficava...parvalhonas!!

mario carvalho disse...

http://www.ambienteonline.pt/canal/detalhe/salvar-o-tua-

OPINIÃO: Salvar o Tua — um imperativo civilizacional
12.02.2014
Por João Joanaz de Melo, Professor universitário, dirigente do GEOTA


Foz Tua: pedra de toque do Programa Nacional de Barragens, paradigma das políticas erradas de energia, ambiente, investimento público, transportes, cultura e desenvolvimento regional.

O Programa Nacional de Barragens foi criado há mais de seis anos, merecendo desde o início a oposição da maioria dos técnicos, populações locais e ambientalistas; estranhamente, só há pouco tempo começou a ser discutido com alguma expressão na comunicação social.

Toda a gente que estudou o assunto sabe que o Programa de Barragens é uma das piores PPP: inútil para o cumprimento das metas (cumpridas com os reforços das barragens antigas), irrelevante para o sistema energético, altamente lesivo para o ambiente e o desenvolvimento local (destrói os solos, os ecossistemas ribeirinhos, paisagens únicas, os activos e emprego para um turismo de qualidade, e aumenta os riscos de erosão costeira pela retenção de areias). A electricidade produzida nas novas barragens será uma das mais caras do País: não há números oficiais sobre os encargos incorridos, mas as estimativas disponíveis apontam para mais de 15 000 milhões de euros: quase 4000 euros por família.

Muitos comentadores políticos e económicos e o próprio ministro do Ambiente e da Energia reconhecem hoje que este é um mau programa. O foco da discussão deixou portanto de ser a maldade do Programa, que podemos dar como adquirida. A questão agora é: como pará-lo?

Foram aprovadas nos últimos anos nove grandes barragens, duas pré-programa (Baixo Sabor e Ribeiradio, que têm as obras adiantadas) e sete incluídas no Programa propriamente dito. Destas, apenas uma — Foz Tua — está em construção, na fase inicial.
Na galeria de horrores do Programa de Barragens, Foz Tua é ainda assim um caso especial:

-Provoca a destruição da linha do Tua, um dos ex-líbris da ferrovia nacional, peça importante da mobilidade regional e do valor e turístico da região, pondo em causa o Alto Douro Vinhateiro Património Mundial;
-Com a iminente destruição do Baixo Sabor, o Tua torna-se o mais importante dos rios portugueses não artificializados, com um valor ecológico e turístico inestimável;
-Existem perspectivas de um modelo de desenvolvimento local alternativo, assente nas especificidades da linha e do vale;
-A oposição à barragem de Foz Tua motivou uma coligação inédita de populações locais, ambientalistas, empresas, técnicos, políticos, advogados e especialistas de comunicação.

Foz Tua não é apenas mais uma má obra: é o paradigma de tudo o que está errado nas políticas (ou falta delas) de energia, ambiente, investimento público, transportes, cultura e desenvolvimento regional das últimas duas décadas. Os defensores desta barragem são os mesmos que provocaram a crise económica e de valores que o País atravessa.

Parar a barragem de Foz Tua sairá 20 vezes mais barato ao País do que deixá-la avançar. Além de um imperativo de civilização — social, ambiental, cultural — parar Foz Tua é uma oportunidade ímpar para dar um golpe significativo nos interesses que nos (des)governam, atingindo o único sítio onde lhes dói: a carteira.

Provocação do mês
Foz Tua é hoje o ponto fulcral em Portugal da luta entre duas concepções do mundo: a sustentabilidade contra a ganância, o Estado de direito contra as oligarquias, a inteligência contra o betão, a solidariedade contra o abandono. Quer mudar? A sério? Faça alguma coisa! VAMOS SALVAR O TUA. Saiba como em www.salvarotua.org


João Joanaz de Melo é licenciado e Doutorado em Engenharia do Ambiente. Professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Amante da Natureza, activista nas horas vagas, foi fundador e presidente do GEOTA.