05 abril 2013

ROMARIAS TRANSMONTANAS - SANTA EUFÉMIA DE LAVANDEIRA: Armindo Jaime Mesquita



 Recordar é viver e, como tal, vamos recuar ao ano de 1950. 

Acho eu que toda a gente do concelho de Carrazeda de Ansiães conhecerá os festejos de Santa Eufémia da freguesia de Lavandeira, terra bem próxima ao Castelo de Ansiães. Para quem ainda não conheça, convido-os a procurarem esta romaria que se realiza a 16 de Setembro de cada ano. Que é animada e onde se compra e come a boa marrã (carne de porco). Esta é bem conhecida entre os povos do Douro.

Em épocas já perdidas pela voragem do tempo, vinham multidões em grupos, muitos quilómetros a pé, de zonas distantes, a fim de assistirem aos festejos da referida santa. Vinham de todas as direções, tomando os mais variados caminhos que conduzissem a Lavandeira. Naquele tempo usava-se com frequência o fato. Janota que se prezasse tinha como figurino de moda o fato, calça e casaco do mesmo pano. Gravata e lencinho branco de três pontas sobre o bolsinho. As raparigas vestiam o melhor que tinham e no percurso algumas procuravam poupar o bom calçado, porque o dinheiro não abundava e não tinham mais que uma par de sapatos e então faziam a caminhada com calçado mais adaptado às irregularidades dos rudes caminhos e só calçavam os sapatos logo à chegada à povoação. Todos primavam em mostrar uma imagem mais consentânea com os grandes momentos de festa, porque era importante, dado que aí se encontraria muita gente.

 Os rapazes e as raparigas eram dominados pelos mesmos interesses e desejos: divertir, dançar e se possível arranjar namoro. Conquanto o povo diga: “Namoro de festa é sol de pouca dura". Querendo dizer que obedece a uma emoção e a um fascínio de ocasião e que não se prolonga no tempo com seriedade de compromisso. E por vezes as menos precavidas, embaladas nessa aventura de sonho perdiam-se, ficando com uma lembrança azeda, porque não valeria pena esperar por quem pusera os sentimentos fora dessa questão. 

Nessa época faziam-se e cumpriam-se muitas promessas. Vinham lavradores com os seus bois com taleigos de pão sobre a cabeça e amarrados aos chifres, dando voltas ao redor da igreja; depois eram os pastores com os seus rebanhos, cuidadosamente limpos. Que conduziam o rebanho igualmente ao redor daquela, bastando uma vez, para que a ovelha que chefiava fosse ela a dirigir o rebanho, ele ficava na zona da esquina da igreja, mais os seus cães. E parece que os rebanhos adivinhavam ser um momento especial, porque mostravam alegria nas suas vozes. O pastor também se esmerava melhor. Então ao sinal de comando da sua voz, a chefona interpretava e atendia de imediato, parando à sua beira. Punha-se à frente do rebanho e seguiam-no. 

O ponto alto da romaria seria a solenidade da sua procissão. Dava-se destaque a esta. Escolhiam-se os melhores armadores O povoléu agrupava-se à fachada da bela igreja - uma das mais belas da área- esperando a saída dos andores. A admiração e o respeito cresciam por essas santas imagens. Depois tomavam uma ordem, vinham os anjinhos representando figuras bíblicas; crianças cientes das exigências de seu papel, mas seguidas por mães ou mordomos; o pálio com o sr. padre conduzindo nas mãos a Custódia e este transportado por as figuras mais gradas e respeitosas da terra; e a seguir tomava lugar na mesma a briosa Banda de música, que pelo toque concedia virtude à solenidade; a multidão vinha em seguida; e por vezes lá vinham senhoras apressadas, de velas acesas, colocando-se ao lado do santo/a da sua devoção; o fogueteiro atirava ao ar foguetes de três respostas, que ecoavam pela aldeia e se propagavam por ondas sonoras às povoações vizinhas; a Banda alinhava e de passo pausado, cadenciado, iniciava seu lindíssimo toque, apropriado para acompanhar a procissão; os sinos tocavam e lá seguia a procissão pelas ruas da aldeia, com os belos estandartes à frente, as lanternas, a imagem do Senhor. As varandas, sacadas e janelas, por onde esta passava, exibiam o lindo aparato de colchas finas dispostas sobre estas. E o povo comprimia-se e mais gente ia engrossando o belo cortejo com o máximo dos respeitos. E de quando em quando lá vinham os foguetes a anunciar a passagem da procissão, que ao rebentar deixavam no espaço etéreo uma esteira de fumo, que se esfumava aos poucos.

 / Seguirá numa 2ª parte.

Armindo Jaime Mesquita

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