18 fevereiro 2013

Fechar a porta?


No seu início, a história do país é pautada por uma grande descentralização do poder. Interessava ao rei incapaz de assegurar um domínio centralizado sobre o território. De modo a combater a chamada senhorialização e a ganância dos nobres, o monarca defendeu os concelhos e as suas populações. As gentes eram donas do seu destino, vivendo comunitariamente, bastando-se a si próprios, interagindo na fartura e na míngua e administrando a justiça, que o rei lhes impunha, de forma parcimoniosa. Aos poucos a organização territorial resvalou para uma contínua centralização com todo o poder, primeiro, nas mãos do senhor da terra ou do clero, mais tarde no poder absoluto do rei que o abade, o donatário e o juiz de fora representavam. Atualmente o poder centrado nas grandes cidades e no litoral, esquece e despreza  uma grande parte do território, o interior do país, longe dos centros de decisão, com pouco poder reivindicativo e sem peso eleitoral.

Na ideologia do Estado Novo foi posta a tónica num país rural, atrasado e subdesenvolvido. As aldeias mantiveram população e atividade económica devido ao isolamento, à falta de qualificação e de escolha das populações, mantendo-se uma sociedade fechada e autossuficiente e, para muitos, a única saída da miséria que os asfixiava foi a saída do país.

A instituição do Portugal Democrático no vinte e cinco de Abril abriu caminho para o despovoamento e o desinteresse pelo interior do país. Não há democracia sem justiça, nem justiça sem discriminação positiva. O nosso sistema democrático está a transformar-se numa sociedade injusta porque há muito que deixou de ser universalista por não saber respeitar os particularismos e os verdadeiros saberes. O interior pouco mais tem servido de quadro do “folclore” nacional: um local castiço, de usos e costumes estranhos, para onde se olha para encontrar o bizarro e o anedótico.
Aqui chegados muitos dirão que será preciso fechar a porta e partir. 

Será? 
(continua)

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