11 fevereiro 2013

CARRAZEDA NO MEU TEMPO DE MOCINHO: Armindo Jaime Mesquita



Já lá vão uns largos anos. Para cima de meio século. Ir à vila era como ir a uma festa. Os dias de feira a 10,20 e 30 de cada mês traduziam-se num acontecimento especial, além de negócios revestia-se dum significado social, onde as pessoas se encontravam e que por momentos se convivia. E entre uns copitos de vinho, numa ou noutra taberna, desenrolavam-se as novidades ou se recordavam episódios da vida. Alguns até se esqueciam do tempo e quando se "precatavam" faziam o regresso a casa já de noite, o que não era muito aconselhável. No caso dos habitantes da zona da POÇA: Seixo de Ansiães, Beira Grande, Lavandeira, Alganhafres e Selores deixavam por vezes o percurso pela estrada e faziam-no mais directamente por um velho caminho que conduzia à fértil Veiga de Carrazeda que se tornava acessível por uma velha ponte de pedra, cruzando espessas matas de "pinheirais". Nessa época a região exibia um belíssimo cenário de pináceas resinosas, impregnando a paisagem dum lindo tom de verde e que por vezes se misturava com outros de tonalidades diferentes. Eram bem diferentes as pessoas e bem diferente os campos com as suas culturas e mesmo a própria paisagem. No dia de feira, pessoas cruzavam-se no percurso para lá e havia sempre um cumprimento e uma breve troca de palavras; animais e produtos circulavam. A Veiga era ao tempo o alfobre da boa produção de batata, hoje transformada em produtora de maçã, que deve ter começado seu plantio em princípios da década dos anos sessenta. E eu nessa ponte, quando por ali passava, debruçava-se sobre as guardas da mesma e ficava apreciando os lindos peixes vermelhos movimentando-se graciosamente nas transparentes águas do ribeiro. E aquando das regas, mais abaixo, um macho puxava a nora à volta dum poço, trazendo os alcatruzes testos de água. Era um regalo ver os batatais floridos, nivelados ao mesmo tamanho com uma simetria admirável. Não admira que o Homem olhe para o seu trabalho com tanto amor, porque aí está o labor da sua dedicação e empenho. Seus olhos acariciam os renovos como acariciam o corpo da mulher amada. A Praça exibia um ar festivo, com os tendeiros expondo sua mercadoria e as ruas que conduziam ao espaço da feira, onde se reuniam os animais para venda, enchiam o ar de sons diversos. Depois lá vinham os entendidos negociantes, apreciando os animais e botando preço. Mas a feira também era mais que isso, aproveitava-se para tratar de vários assuntos. 

Armindo Jaime Mesquita

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