Já lá vão uns largos anos. Para cima de meio século. Ir à vila era como
ir a uma festa. Os dias de feira a 10,20 e 30 de cada mês traduziam-se num
acontecimento especial, além de negócios revestia-se dum significado social,
onde as pessoas se encontravam e que por momentos se convivia. E entre uns
copitos de vinho, numa ou noutra taberna, desenrolavam-se as novidades ou se
recordavam episódios da vida. Alguns até se esqueciam do tempo e quando se
"precatavam" faziam o regresso a casa já de noite, o que não era
muito aconselhável. No caso dos habitantes da zona da POÇA: Seixo de Ansiães,
Beira Grande, Lavandeira, Alganhafres e Selores deixavam por vezes o percurso
pela estrada e faziam-no mais directamente por um velho caminho que conduzia à
fértil Veiga de Carrazeda que se tornava acessível por uma velha ponte de
pedra, cruzando espessas matas de "pinheirais". Nessa época a região
exibia um belíssimo cenário de pináceas resinosas, impregnando a paisagem dum
lindo tom de verde e que por vezes se misturava com outros de tonalidades
diferentes. Eram bem diferentes as pessoas e bem diferente os campos com as
suas culturas e mesmo a própria paisagem. No dia de feira, pessoas cruzavam-se
no percurso para lá e havia sempre um cumprimento e uma breve troca de
palavras; animais e produtos circulavam. A Veiga era ao tempo o alfobre da boa
produção de batata, hoje transformada em produtora de maçã, que deve ter
começado seu plantio em princípios da década dos anos sessenta. E eu nessa
ponte, quando por ali passava, debruçava-se sobre as guardas da mesma e ficava
apreciando os lindos peixes vermelhos movimentando-se graciosamente nas
transparentes águas do ribeiro. E aquando das regas, mais abaixo, um macho
puxava a nora à volta dum poço, trazendo os alcatruzes testos de água. Era um
regalo ver os batatais floridos, nivelados ao mesmo tamanho com uma simetria
admirável. Não admira que o Homem olhe para o seu trabalho com tanto amor,
porque aí está o labor da sua dedicação e empenho. Seus olhos acariciam os
renovos como acariciam o corpo da mulher amada. A Praça exibia um ar festivo,
com os tendeiros expondo sua mercadoria e as ruas que conduziam ao espaço da
feira, onde se reuniam os animais para venda, enchiam o ar de sons diversos.
Depois lá vinham os entendidos negociantes, apreciando os animais e botando
preço. Mas a feira também era mais que isso, aproveitava-se para tratar de
vários assuntos.
Armindo Jaime Mesquita
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