Contrariamente
ao que seria de esperar, a Câmara de Carrazeda tem três fortes candidatos à
presidência. Parece até que desta vez não há necessidade alguma de uma
candidatura independente pois o leque de escolhas é mais que suficiente e não
há qualquer interesse numa grande dispersão de votos.
As
expectativas da acção futura do eleito é que me parece não poderem ser
exageradas.
Do
ponto de vista da estatura moral, dinamismo e simpatia, cada um escolherá
quem achar preferível, não deixando de ter aqui importância a simpatia
partidária de cada um e também o desejo de mudança de escolha numa terra em que
sempre as coisas têm pendido para o mesmo lado da balança .Terá que ser bem
ponderado quem reúne as melhores perspectivas de renovação e de capacidade para
enfrentar o que aí vem necessariamente de novo, defendendo, na renovação, o que
melhor estiver de acordo com o bem estar das populações.
Tendo
em vista a crise atual, as expectativas não podem ser demasiado elevadas. Terão
que virar-se para o melhoramento das infraestruturas de água e luz e outras que
possam enriquecer o nível de vida dos cidadãos, postergando para segundo plano
a construção de obras que em Carrazeda tendem a transformar-se em elefantes
brancos (há ,no entanto, uma obra, que podendo transformar-se em despicienda,
ainda deve merecer a nossa atenção – um pavilhão gimnodesportivo) .
Que
pode e deve ser feito então?
Dar
utilidade prática ao que está já feito.
Há
uma obra em que já não se pode evitar o desperdício: o novo cemitério.
Mas
pode tirar-se um melhor proveito do mercado municipal , da biblioteca e do
centro de apoio rural: permitindo o uso quase gratuito do mercado municipal
para exposição de produtos e novidades agrícolas , da biblioteca para a
organização de pequenas tertúlias e eventos literários, do centro de apoio
rural para exibição de actos culturais tais como peças de teatro, colóquios,
debates , propiciando estes espaços à realização de actividades
escolares, correndo o risco de alguma deterioração, tendo sempre presente que é
melhor que as coisas se gastem com o uso do que morram por abandono.
Há
que dar o melhor proveito possível a duas obras de grande vulto: o centro
cívico e as piscinas cobertas. As segundas implicam gastos consideráveis e é
fundamental propiciar o seu uso à juventude, que é a sua destinatária
privilegiada: não possibilitar a utilização à gente jovem é um crime
contra a formação sã da juventude. As piscinas podem ser aproveitadas no todo
ou em parte mas não podem deixar de ser aproveitadas, pelo menos enquanto houver
em Carrazeda população que as justifique (por enquanto, há). O centro cívico deve
ser aproveitado para cursos diversos e utilizações várias, servindo em
primeiro lugar as escolas de Carrazeda.
Para
além disso, que pode fazer mais um presidente? Deve colaborar com as outras
instituições no sentido de as populações serem bem servidas, porque todas as
instituições devem estar ao serviço das pessoas. Deve ,pois, manter uma
colaboração estreita com a Igreja (a caritas, em particular), com o centro de
saúde, com a Misericórdia , com a GNR e com as freguesias.
Poderá
a Câmara meter-se na constituição de empresas para fazer ela própria o
desenvolvimento económico do concelho?
Parece
que não. Essa é uma área destinada à iniciativa privada. Claro que nada impede que
sejam propiciadas algumas coisas simples como a construção de um mínimo de
obras que possibilitem sobretudo aos residentes o desfrute em condições
mínimas de locais como o S .Lourenço, a Senhora da Ribeira, o Tua, o castelo,
as antas. Mas, sempre que os investimentos exijam grandes somas de capitais
então só grandes investidores podem abalançar-se a eles. Durante os próximos
anos, ninguém pode pretender (como se pretendia antes) que a
Câmara faça tudo.
Será
isto suficiente para que o concelho se mantenha? Durante mais uns anos, sim.
Depois, tudo dependerá do que for descoberto no subsolo concelhio já que
não é fácil descortinar um desenvolvimento que mantenha a actual população,
quanto mais aumentá-la.
Um
repovoamento forçado (em que as pessoas sejam obrigadas a ir para o interior),
está inteiramente posto de parte.
É
preciso é garantir que, seja qual for o futuro, as populações de todo o
concelho tenham condições de vida sempre melhores.
João
Lopes de Matos
10 comentários:
João Lopes de Matos há muito que nos habituou a um discurso assertivo, coerente e pertinente, sempre oportuno e sagaz! Este texto reflete uma realidade que infelizmente não é reconhecida por todos, pelo menos, por aqueles que teimam em votar sempre no mesmo partido sem terem a coragem e a clarividência de mudar (ao menos uma vez), para dar oportunidade àqueles que nunca assumiram a presidência deste concelho e se apresentam para as próximas autárquicas com novas ideias e novos caminhos que nos conduzam, efetivamente, a uma vivência mais agradável e mais aberta para todos!
Helder Rodrigues
É sempre esclarecido o teclado de JLM.
... e será que me vou render? talvez seja só esse o papel do Presidente da Câmara da minha terra - gerir o dia a dia e preparar-se para entregar as chaves mais cedo ou mais tarde. Até ao encerramento do concelho fazer o melhor que pode, sabe e lhe deixarem para o bem-estar das populações, estender pontes de fraternidade às instituições da vila e semear a paz e a concórdia; entretanto arranjar umas boas colocações para familiares e "apaniguados", preparar a reforma, promover umas merendas e jantares (frugais, q. b.) para animar a malta dos velhos; e pelo Natal oferecer uma pilha a cada sala de aulas porque relógio já têm.
Tem razão. E eu que pensava que a política era coisa. Só pode ser engano meu!
A sua postura é muito interessante,JAM.Não gosta da política assim entendida,parece.Mas não diz como a "coisa" deve ser.Diga.Estamos ansiosos pelo resultado da sua clarividência.
Na sua descrição só não compreendo porque fala em colocações,reformas,merendas,jantares e pilhas.
Acha que haverá dinheiro para tudo isso?
JLM
Noto por aí um certo azedume, caro doutor. Creia que não era minha intenção. Quanto ao peditório que me propõe, desta vez não vai dar porque são tantas as vezes que já contribui, com sua licença, abstenho-me.
Alguns esclarecimentos:
as colocações são um dos pratos fortes das sucessivas políticas autárquicas;
as reformas são o móbil de muitos políticos - diz-se até que o que faria correr um putativo candidato eram os três anos que faltam para a dita; pois os ganhos em tempo de serviço ajudam;
as merendas e os jantares são o handicap principal para angariação de votos;
... e as pilhas são necessárias para o próximo ano porque a prenda deste Natal das turmas escolares foi um relógio.
Quanto ao resto estou consigo - paz e amizade - até proporia que se chamasse assim ao futuro pavilhão,se já não houvesse um com esse nome.
Um abraço.
Já dizia Miguel Torga
«É um fenómeno curioso: O país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disso.
Falta-lhe o romantismo cívico da agressão.
Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados.»
Salvo o devido respeito por Miguel Torga,o que falta é o espírito de luta construtiva, participativa,consciente de que se tem direito a tomar parte na vida do país,sofrendo com as dificuldades mas lutando por ultrapassá-las. Acho que a indignação e o protesto não são suficientes. É preciso tomar a vida,neste caso, do concelho como coisa própria,coisa que não pode prescindir da participação de todos porque as pessoas não o permitem. Tem faltado ao povo o romantismo cívico da participação.
Realmente,caro JAM,pensei que tudo o que disse era contra o meu discurso e que o que refere estava nele implícito.Mas acho que tenho razão em solicitar o discurso feito à sua maneira.Talvez,com a sua ajuda,pudesse chegar à conclusão de que é possível fazer muito mais do que aquilo que me parece possível e realista.
JLM
PS - O problema vem sempre depois da agressão:o que fazer se a agressão resulta.
O PS do meu comentário anterior saíu-me demasiado sintético e enigmático.
Queria eu dizer,referindo-me à palvra "agressão" de Miguel Torga,que ela, a agressão, é perigosa não só pelos processos algo violentos que por vezes implica como sobretudo porque,muitas vezes,com ela se consegue chegar ao comando de países ou instituições.Chegados aqui,as pessoas nada conseguem fazer de válido porque não conseguem reunir as condições necessárias ao sucesso. E fracassam.Não tendo o sentido das dificuldades,é difícil fazer obra válida.
Que confusão vai nesta minha cabeça,mas talvez agora tudo resulte mais claro.
As minhas desculpas
JLM
É uma pequena maravilha o "diálogo" entre doutores!
Por uma questão de mostrar cada qual sua melhor sabedoria, acabam por dizer tudo e nada ao mesmo tempo!
Bom, mas a respeito do artigo do Senhor Dr. JLM, com o devido respeito direi que no fim se diz o verdadeiramente essencial-Diz o autor-: "...É preciso garantir que, seja qual for o futuro, as populações de todo o concelho tenham condições de vida sempre melhores." Direi então que, a título de brincadeira e com todo o respeito, dispensaria o diálogo entre doutores, a que normalmente se chama conversa fiada!
SLS
ó SLB não diga isso, conversa fiada é porque se fia, não é?
Não seja tão mauzinho com os doutores, homem! Sem eles, o que seria da gente?
http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2013/01/27/viver-numa-aldeia-incomum
Vejam o que faz o presidente da junta desta freguesia e aprendam alguma coisa com isto!
JC
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