20 outubro 2012

Ao Manuel António Pina




Com o Manuel António Pina aprendi a ler o jornal de uma forma diferente: primeiro a última página e só depois as outras: como observou um amigo, o JN tinha o melhor ângulo reto do jornalismo português: o cartoon e a crónica do Pina (permitam-me este tratamento). 

Por estes dias, as crónicas do Pina não ajudam a formar o tal ângulo que ajuda a sustentar a realidade, e o café e a leitura do JN já não eram a mesma coisa: faltava algo na tertúlia diária, como uma linha de concordância que me aproximava dos amigos: já leste? Já! Outra vez demolidor! Já leste? Não! Então faz o favor porque é imperdível! Ler o Pina diariamente para além do prazer era também um dever.

As crónicas do Pina no JN eram uma delícia de análise quotidiana deste Portugal suave, mas injusto, com políticos e decisores que se acham demasiado importantes e sérios, e muitos não passam de sujeitos medíocres, que Manuel António Pina fazia cair no ridículo. As farpas do Pina eram certeiras e absolutamente necessárias num país que perde identidade, valores e sentido. Era um homem sem medo, frontal e desvinculado que fugia da mediocridade dos comentadores papagaios da nossa praça, pois muitos só dizem futilidades. Também sabia elogiar e diferençar o mérito e o sucesso e sobretudo destacar a coragem e a abnegação do povo. 

Com a ausência de Manuel António Pina, Portugal ficou mais pobre porque é destes homens que o país precisa. Por isso, bem-haja pela maneira como usou as palavras para clarear a realidade, por escrever o que faltava dizer, e sobretudo por me fazer sentir que vale a pena ser português!

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