Com o Manuel António Pina aprendi a ler o jornal de uma forma
diferente: primeiro a última página e só depois as outras: como observou um
amigo, o JN tinha o melhor ângulo reto do jornalismo português: o cartoon e a crónica do Pina (permitam-me este tratamento).
Por estes dias, as crónicas do Pina não ajudam a formar o tal ângulo que ajuda a sustentar a realidade, e o café e a leitura do JN já não eram a mesma coisa: faltava algo na tertúlia
diária, como uma linha de concordância que me aproximava dos amigos: já leste?
Já! Outra vez demolidor! Já leste? Não! Então faz o favor porque é imperdível! Ler
o Pina diariamente para além do prazer era também um dever.
As crónicas do Pina no JN eram uma delícia de análise
quotidiana deste Portugal suave, mas injusto, com políticos e decisores que se
acham demasiado importantes e sérios, e muitos não passam de sujeitos medíocres,
que Manuel António Pina fazia cair no ridículo. As farpas do Pina eram
certeiras e absolutamente necessárias num país que perde identidade, valores e sentido.
Era um homem sem medo, frontal e desvinculado que fugia da mediocridade dos
comentadores papagaios da nossa praça, pois muitos só dizem futilidades. Também
sabia elogiar e diferençar o mérito e o sucesso e sobretudo destacar a coragem e a
abnegação do povo.
Com a ausência de Manuel António Pina, Portugal ficou mais
pobre porque é destes homens que o país precisa. Por isso, bem-haja pela maneira
como usou as palavras para clarear a realidade, por escrever o que faltava
dizer, e sobretudo por me fazer sentir que vale a pena ser português!
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