27 agosto 2012

O silêncio do comboio e a desistência do interior do país


(Público 27 de Agosto)

A CP retira do seu endereço eletrónico o compromisso de “garantir a mobilidade de toda a comunidade, independentemente da sua condição económica ou geográfica”. Questionada pelo Público responde tratar-se de uma atualização do site para corrigir o número de quilometragem e novamente interrogada quanto à responsabilidade da decisão ser do Governo contrapõe com o silêncio. Habituados que estamos a estes sinais, não se augura nada de bom para a manutenção de alguns serviços ferroviários. 

Lembra-se que o anterior governo num estudo entregue à troika propôs o fecho de 794 km de linha férrea. A rede ferroviária seria circunscrita ao litoral Braga-Faro e às linhas da Beira Alta que liga Coimbra a Espanha por Vilar Formoso e da Beira Baixa que liga o Entroncamento à Guarda. As restantes linhas seriam cortadas ou desapareceriam, particularmente a no Norte e no Alentejo, como se verificou com a suspensão do serviço em diversas linhas: Corgo, Tâmega, Tua… para obras de remodelação. As obras ainda não começaram e já ninguém acredita na reativação destas. O encerramento inclui também a Linha do Douro, entre Régua e Pocinho (68 quilómetros). 

Esta é uma razia idêntica ao tempo do governo de Cavaco Silva, nos princípios dos anos noventa, que redundou no encerramento de 800 quilómetros de linhas de caminho-de-ferro, sobretudo no Alentejo e em Trás-os-Montes: ramal de Sines; Estrela de Évora; ramal de Moura, Valença-Monção na Linha do Minho, Sernada – Viseu na Linha do Vouga, Amarante – Arco de Baúlhe na Linha do Tâmega, Vila Real Chaves na Linha do Corgo e Bragança Mirandela na linha do Tua. 

O acordo com a troika assegura a garantia da independência da CP para um equilíbrio de contas e redução de custos, aumento de bilhetes, revisão das obrigações do serviço público e as palavras mágicas do novo paradigma económico: privatizar e racionalizar, que significam encerramentos e menos mobilidade no interior do país. 

O silêncio do comboio nos vales do interior é um sinal claro da desistência por esta parte do país.

2 comentários:

mario carvalho disse...

o ridiculo da CP e dos irresponsáveis que querem fazer de nós ainda mais estúpidos que eles

http://anossaterrinha.blogspot.pt/2012/07/a-cp-chega-todo-o-territorio-nacional.html

Carlos Pinheiro disse...

O que aqui se esvre é a pura da realidade. Mas permita-se que faça uma pequena correcão. A Linha da Beira Baixa está interrompida e desactivada há anos entre a Covilhão e a Guarda. Portanto a linha da Beira Baixa já não serve de alternativa à linha da Beira Alta quando a mesma tiver qualquer problema grave. Mas ainda lhe digo mais o seguinte. Há anos, devido à instabilidade das barreiras de Santarém foi feito um projecto para uma variante ferroviária aquela cidade. Nunca saiu da gaveta. Assim, o mais natural é que num inverno mais rigoroso aquilo deabe para o Tejo e corte as ligações ferroviárias Norte Sul e Sul Norte até porque a antiga alternativa que era a Linha do Oeste está a cair aos bocados e só há comboios de passageiros entre o Cacém e as Caldas. O que eles querem é que se rentabilizem as auto-estradas dos privados. Essa e que é essa. O interior que se lixe. Nãp o dizem mas é o que fazem todos os dias.