Conta a lenda que a pedra que lhe
serve de cobertura foi transportada por uma moura que a trouxe lá do fundo da Cabreira,
à cabeça, ao mesmo tempo que amparava no colo o seu filhinho.
Podíamos parar aqui, ao ver a
incongruência cronológica, pois as datas da presença mourisca em Portugal e do
período do megalítico são díspares em cerca de quatro milhares de anos. Não é
isso que nos interessa.
Uma lenda mistura a realidade e a
fantasia - a referência aos mouros representa no ideário popular o período mais
longínquo que se recorre para fazer alusões ao passado. O património oral, de que a lenda é
um exemplo, é uma manifestação do génio criador do homem, está profundamente
enraizado na tradição e história das comunidades locais e é por isso uma prova de
identidade e especificidade que urge preservar para a diversidade e riqueza
cultural do país.
O povo como autor anónimo da tradição oral assegura assim um
espaço na memória das gerações e possibilita a transmissão de valores e
saberes. Este património por ser oral é imaterial e por isso efémero, daí a
importância das recolhas, pois, para além de retratar as comunidades, permite conhecê-las
melhor e preservar aspetos culturais que a mudança de hábitos sociais e a
erosão do tempo podem perder.
Porém, a compilação do património oral não é suficiente para
a sua preservação como se defendeu. As lendas, histórias e contos populares
compilados e guardados em livros que ninguém lê, não são trabalhados em sala de
aula, não são transmitidos às novas gerações… de nada valem. Elas têm de ser
divulgados, lidos, recriados, e novamente transmitidos. Só assim se há de respeitar
a memória coletiva e justificar o trabalho de recolha.
(Continua)
(Continua)
1 comentário:
E se deixarmos que as lendas caiam no fundo e negro poço do esquecimento?
Pensando bem parece ser melhor dá-las a conhecer para termos cuidado com a imginação humana, que, facilmente, cria do nada deuses,lobisomens,mouras,que nos atormentam a existência.
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