24 fevereiro 2008

Ipsis verbis

"Sentado em São Bento, Sócrates não vê o país, vê a organização jurídica da "educação" (ou da saúde, ou da justiça) e um molho de estatísticas. Depois toma medidas, que julga aplicadamente pelo seu "bom senso" e pela sua racionalidade imediata, ou seja, superficial. Para ele, governar é "tomar medidas". Imagina com certeza que, "tomando medidas", reforma Portugal. A realidade não entra nesta história. Sem sair do seu mundo abstracto e asséptico, na televisão ou no Parlamento, Sócrates convence, até porque está sinceramente convencido. Mas cá fora, embora incomodado aqui e ali pela autoridade do Governo, Portugal continua igual ao que era."

Vasco Pulido Valente no PÚBLICO

2 comentários:

Anónimo disse...

E como pensa Vasco que se deve fazer? Não o diz. Constata apenas. Não apresenta alternativas.
É pena porque é um cérebro muito iluminado e Portugal ficar-lhe-ia eternamente grato.

mario carvalho disse...

Zonas Rurais de Paises Africanos descrentes do papel do Estado conseguem alternativas.. e nós? vamos ter de aprender com os Africanos

Fonte Lusa e Rtp

África: Estado tende a ser substituído por actores locais nas comunidades rurais



Coimbra, 26 Fev (Lusa) - O Estado nos países africanos tende a perder protagonismo, porque não consegue corresponder aos anseios dos cidadãos, e é substituído por outros actores nas comunidades rurais, pela igreja, ONG, autoridades locais ou mesmo organizações sócio-profissionais.

Esta tese é perfilhada num trabalho de investigação coordenado pelo antropólogo Fernando Florêncio, da Universidade de Coimbra, que desde 2005 está a ser desenvolvido em regiões de Angola, Moçambique, Etiópia e Gana.

"A população olha para o Estado com desconfiança, porque não tem capacidade para levar a cabo as funções primárias exigidas. Não é um actor que seja legítimo para as populações, porque não é relevante a trazer benefícios, que tem sido da responsabilidade de actores laterais", referiu, em declarações à agência Lusa.

Para esse estado de coisas - acrescentou - também contribuiu a "etnização" e a "regionalização" dos regimes africanos pós coloniais, com a emergência de uma certa etnia no poder, ou a aposta numa determinada região.

Fernando Florêncio, investigador chefe de uma equipa que engloba também um investigador moçambicano e outro angolano, diz que são esses actores não estatais que trazem benefícios para as populações, e que acabam por ser mais importantes junto das comunidades rurais.

Entre esses "actores laterais" o investigador destaca as autoridades tradicionais, as Organizações Não Governamentais (ONG`s), normalmente estrangeiras, a igreja, organizações de camponeses, socioprofissionais, ou de mulheres.

"É algo de muito complexo e que não é estanque", observou o antropólogo Fernando Florêncio, salientando que por vezes cada actor aparece em diversas funções, da igreja, em ONG`s, ou como professor, ou que há concorrência de protagonismo entre si.

Por outro lado - acrescenta - esses actores locais que substituem o Estado acabam por "transmitir a mensagem que lhes é mais conveniente", e por essa via "assumem um enorme poder, tendo a capacidade para travar ou acelerar o desenvolvimento das zonas rurais".

De acordo com uma nota de imprensa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, a investigação, que termina no final do corrente ano, visa "conhecer e avaliar como determinados actores políticos tradicionais interferem na política do Estado considerando o facto de a maioria da população destes países viver em zonas rurais".

"A grande contribuição deste estudo é a obtenção de dados empíricos sobre comunidades rurais africanas escassamente estudadas", refere o investigador, realçando que esses actores laterais acabam por ter "um papel decisivo na construção do Estado e na sua legitimidade junto das populações".

Com "Dinâmicas Sociais na Estruturação dos Espaços Políticos e Contextos Rurais Africanos" os investigadores pretenderam estudar quatro países que após a independência adoptaram regimes marxistas-leninistas, embora esta particularidade "não sirva de termo de comparação", porque cada um o levou à prática de forma diversa, concluiu.


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2008-02-26 09:1