07 fevereiro 2007

Mezinhas caseiras

Um pouco por todo o município do interior que se preze, os autarcas vão implementando medidas variadas para fixar ou atrair populações nos seus concelhos. Ele é o subsídio para nascimentos e casamentos, para fixação de jovens casais, para os estudantes universitários; eles são os cartões dos jovens que lhes asseguram diversos descontos; ele é a isenção de impostos municipais para empresas forasteiras que se fixem no território; ele é o euro simbólico por m2 de área oferecido pelos terrenos das zonas industriais para captar investimentos. A imaginação dos edis não tem limites para estancar o despovoamento do interior.

Os eleitos pelo povo nas pequenas vilas não se resignam e tudo parecem fazer para inverter a situação de desertificação humana. E se surge uma qualquer ideia no município vizinho, logo tratam de a pôr em prática para não destoar da dedicação geral. Depois desdobram-se em entrevistas, culpam o governo do desprezo a que votam as suas gentes, vangloriam-se das medidas corajosas, ouvem em “pose de estado” sentidas homenagens dos seus correligionários e adversários políticos nas assembleias municipais e dormem o, que pensam ser, o justo sono do dever cumprido.
Por vezes, o circo mediático das televisões e dos jornais de referência dão eco à notícia caricata do empenho do senhor presidente da Câmara ou do presidente da Junta daquela aldeia de nome esquisito e até impronunciável . O citadino sorri e refastelado no sofá lastima dos desgraçados que habitam lá muito longe na província e planeia, num tempo não muito distante (quiçá depois do Algarve e da viagem ao Brasil) visitar a “reserva rural”. Assim divertido alivia do stress traumatizante de mais um dia desgraçado de trânsito e das humilhações do patrão quezilento ou da boçalidade da repartição. Então o país vai dormir aliviado e bem da consciência, pois os autarcas do interior estão a salvar o interior da desertificação.

Só que os remédios caseiros nada resolverão numa doença já crónica e profunda. Estas pequenas tisanas são meros soporíferos que enganam os tolos e escondem a verdadeira cura. Como referiram recentemente alguns especialistas em desenvolvimento regional, os subsídios e outros que tais são fogos fátuos que não fixarão nem atrairão de forma consequente alguém. «As pessoas ficam onde tiverem emprego», é a conclusão simples e crua e ao mesmo tempo desassombrada de Luís Ramos, professor e investigador da UTAD. As pessoas que não tenham possibilidades de obter o seu sustento num determinado lugar, pura e simplesmente procuram outro.

O despovoamento do interior só se resolverá com políticas corajosas da administração central. E ao que vamos assistindo é precisamente o contrário. As grandes apostas do regime e do próximo Quadro Comunitário de Apoio são a Ota e o TGV. O Governo esquece as infra-estruturas necessárias e os apoios exigíveis e não enxerga para além do litoral e do perímetro das grandes cidades.

O Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) de Trás-os-Montes, que se vai estender até 2013, apresentado recentemente em Vila Real, não é muito encorajador para a região. O PDR deixa de lado o sector pecuário (os criadores de raças autóctones já protestaram) e as pequenas explorações agrícolas, e privilegia as grandes produções de vinho. Rita Horta, directora do gabinete de planeamento e política agro-alimentar lembrou que “o vinho é considerado uma fileira estratégica dos próximos anos e serão dados apoios elevados neste sector”. Mas a sustentabilidade e competitividade significarão um investimento nas explorações de maior dimensão. À primeira vista os beneficiários serão os grandes empreendimentos do Douro, ligados a empresas multinacionais, que apesar de acrescentarem mais valia ao país, pouco têm dado à região. Só a seguir parecem vir as apostas em outros sectores como o azeite, os frutos, os produtos hortícolas, produtos de qualidade e florestas.

Um quadro nada animador!

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