16 outubro 2006

“PRODUZIR E VENDER EIS A QUESTÃO”

Naquele tempo, nas aldeias do concelho os lavradores produziam as batatas, o cereal, o vinho etc. etc. e tinham consciência de que estavam a trabalhar para vender esses produtos e obterem algum rendimento para o seu trabalho.
A contabilidade era rudimentar, a contabilidade dos Proveitos e dos Custos era inexistente. Sabia-se que na hora certa do arranque das batatas e estas na loja, lá aparecia o intermediário de Belver, dos Mogos ou de outras aldeias para levar os Kilos de batata produzidos e que eram destinados à venda. A batata assim adquirida, seguia depois em vagões do Caminho de Ferro para Lisboa e no cais da Estação do Tua eram às toneladas, que o comboio transportava, a batata saía e o dinheiro entrava e quantas vezes eu assisti aos telefonemas para um grande armazenista e comerciante de Setúbal, e de lá vinham ordens para comprar a batata a x preço, já incluída a percentagem para o angariador, pagar o trabalho de ensacar, despachar e localizar os vendedores.
Quando a procura superava a oferta, aqui o preço disparava e quem não queria vender, até vendia porque não era mau negócio.
Neste clima vivíamos e eis senão quando na procura de cultivar novos produtos, quiçá mais rentáveis, apareceu a possibilidade de cultivar a maçã em grandes áreas, apoiados com novas técnicas de espaçosas “Charcas ou poços “ – e regadio de gota a gota, que alimentavam as árvores e ajudavam na formação dos frutos. As primeiras experiências no concelho, foram um enorme êxito e os novos proprietários – exprimiam o seu contentamento – sorriam à quantia do cheque recebido pela produção.
Estes produtores –lavradores- faziam o que sempre fizeram os outros, noutros tempos, ou seja – trabalhavam a terra – e produziam, a terra nunca negou colaborar com o proprietário que a trata com carinho, a alimenta e rega, depois a Mãe Natureza faz o resto, o Sol, a Chuva na época própria.
Garantida a produção, como era feita a comercialização?! – Agora vinham da cidade do Porto e de outras cidades, os comerciantes, levavam a maçã e o suor de quem trabalhava todo o ano na terra para agora ver o produto do seu trabalho, à mercê destes comerciantes sem escrúpulos, que compravam a metade do preço que iriam receber, quando a vendem no Mercado Abastecedor do Porto ou noutros mercados, onde têm as suas lojas de venda. Explorados os produtores, mesmo assim viviam felizes e contentes, fazendo o que sempre fizeram, cultivar e produzir. Infelizmente com o passar do tempo, a entrada para a União Europeia e a troca da moeda de escudos para o euro, os comerciantes da cidade, deixaram de vir, os produtores ficaram hipotecados com a rentabilidade do produto e órfãos de soluções, procurando cada um solucionar individualmente o seu problema e alguns grandes produtores até se uniram e nasceu uma empresa privada com fundos estatais, para comercializar directamente a sua produção, para os outros mais pequenos foi a morte anunciada.
As regras do jogo são simples e praticadas desde sempre, não há novidades. Quando o agricultor produz e comercializa, tem enormes possibilidades de ver bons resultados no seu trabalho. Exemplo: - As Quintas dos Ingleses do Douro – O vinho Generoso que engarrafam e vendem na Europa, Ásia, América e África.
Há produtores e engarrafadores que estão a entrar no mercado com os seus produtos, única forma de contabilizar os custos – proveitos, numa exploração moderna e saber os resultados do trabalho feito. Os mais pequenos aqui continuam dependentes da boa vontade, desta casa ou daquele comerciante em adquirir as uvas que as suas vinhas produziram e neste calvário que se agudiza de ano para ano, nem as Cooperativas dão resposta adequada à compra da colheita.
Dizia o Presidente da Cooperativa de Vila Flor : - Se tivesse o poder de transformar o vinho em dinheiro, com a quantidade de vinho que temos, fazíamos dinheiro para pagar a todos os Lavradores, que estão sem receber há 3 anos o produto das suas colheitas. Quem pode produzir, sem receber há 3 anos?! Ou é rico, ou maníaco, ou então foi à Caixa Agrícola, mas hipotecar a vinha não é solução para obter bom vinho.
Oh, Senhor Altino - Presidente da Cooperativa de Vila Flor – Já tentou vender o nosso vinho aos Palop – Países Africanos de Língua Portuguesa? Recentemente foram a Macau a uma Feira que lá houve, várias Empresas de Portugal a tentar vender à China e neste mercado os seus produtos, e nestas algumas eram “Adegas Cooperativas da Região do Alentejo – Infelizmente de Trás Os Montes, dos distritos de Bragança e Vila Real, não apareceu nenhuma Empresa a integrar aquela Delegação. E lá diz o povo e o velho ditado: - Quando o mar bate na rocha, quem se f... é o mexilhão.

Manuel Barreiras Pinto

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