14 outubro 2006

Consensos e barragens

BARRAGEM DO TUA


"A EDP já tem em marcha os estudos geológicos, ambientais e socio-económicos relativos à construção de uma barragem na foz do rio Tua, entre os concelhos de Carrazeda de Ansiães e Alijó.
(...)
Entre os autarcas da região, falta consenso com divisão de opiniões sobre as vantagens do projecto. Mirandela e Murça são dois locais onde a polémica existe.

Máquinas retro-escavadoras abriram já dois acessos ao local onde se supõe vir a localizar-se o paredão da represa um junto à ponte perto da foz do rio e outro desde a Estrada Nacional 212 que liga o Tua a Alijó. Entretanto, equipas de técnicos estão a fazer o levantamento dos interesses das populações que verão inundadas propriedades agrícolas se a barragem vier a ser construída.

Contrapartidas pedidas

O presidente da Câmara de Alijó (...) Artur Cascarejo sustenta que com uma grande instalação automatizada, como aquela que já foi anunciada, poucos impostos directos ou indirectos poderão reverter a favor da autarquia. Daí que seja necessário \"garantir outro tipo de contrapartidas\", já colocadas na mesa de negociações. É que entende que a barragem \"não deve ser apenas benéfica para o país, mas também para as populações locais\".
Opinião semelhante tem o presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães. Eugénio de Castro não tem dúvidas que a barragem \"será mesmo executada\", até porque os prazos inicialmente previstos estão a ser cumpridos. Ou seja, se não houver contratempos as obras no terreno poderão começar em 2009.

\"A compensação pelos prejuízos provocados às populações serão negociados com a EDP\", afirma Eugénio de Castro, que vai reunir, na próxima semana, com aquela instituição. Sobre a mesa serão lançadas também questões relacionadas com as Termas de S. Lourenço e com a linha ferroviária do Tua. Ambos os equipamentos serão afectados pela construção da barragem.

No caso das termas, o projecto de requalificação está parado à espera de saber até que cota subirá a água da albufeira. \"Atrasou-nos o processo, inutilizou-nos os estudos existentes, dados que serão tidos em conta na negociação com a EDP\", adianta o autarca de Carrazeda.


Se a barragem avançar é mais que certo que a linha do Tua deverá ser submergida, constituíndo a machadada final numa via que muitos dizem ser fundamental para fins turísticos, pois comercialmente dá prejuízo."

Eduardo Pinto in JN, 2006-10-14 (sublinhado nosso)

Protestos contra moinhos de vento?
"José Silvano, presidente da Câmara de Mirandela, foi um dos autarcas que já se manifestou contra a barragem, sobretudo porque desactivará a linha ferroviária do Tua.

O autarca de Murça, João Teixeira, também se mantém contra o empreendimento, alegando que a construção \"submergirá 60% da área de vinha e olival da zona da Sobreira\". Mais \"As Caldas de Santa Maria Madalena, a ponte da Brunheda e a ferrovia do Tua ficarão debaixo de água\". Mesmo assim, João Teixeira afirma que terá de ponderar bem todo o processo, pois admite que a barragem também poderá trazer dividendos, lamentando, no entanto, os autarcas vizinhos, sem querer especificar nomes, não assumam luta semelhante contra a barragem.

João Teixeira adianta que, em breve, promoverá um encontro na ponte da Brunheda, que liga Murça a Carrazeda, para dar a conhecer publicamente a posição de Murça. O encontro será aberto à população e o autarca diz já a contar com residentes em Carlão, Brunheda, Pinhal do Norte, Sobreira, Porrais, Abreiro e Vieiro nos protestos contra o empreendimento.

Eugénio de Castro, de Carrazeda de Ansiães, respeita a opinião do homólogo de Murça, mas não concorda com ele. \"Não vale a pena lutar contra moinhos de vento\", justifica."


BARRAGEM DO SABOR

"O ministro do ambiente, Nunes Correia, invocou o interesse público para avançar com a construção da barragem do Baixo Sabor. Os autarcas transmontanos interessados na execução do aproveitamento hidroeléctrico aplaudem a iniciativa do governante.

A Quercus, membro da Plataforma Sabor Livre, tem confiança em que o interesse ambiental vai prevalecer.

A construção da barragem do Baixo Sabor, no concelho de Torre de Moncorvo, marca passo desde que o movimento ambientalista Sabor Livre apresentou uma queixa na Comissão Europeia contra o empreendimento, por colocar em causa a sobrevivência de diversos ecossistemas.

Ontem, em declarações à Antena 1, o ministro do Ambiente anunciou que \"este governo entendeu reassumir o reconhecimento de interesse público da barragem\". Nunes Correia baseia-se em estudos recentes para reconhecer o mérito da albufeira. \"Pode fazer duplicar o valor da energia produzida pela eólica\", disse, admitindo que há problemas ambientais que \"podem ser mitigados e compensados\".

A posição do ministro foi bem acolhida pela Associação dos Municípios do Baixo Sabor. O autarca de Moncorvo, Aires Ferreira, sublinha que se trata de uma \"posição firme do Governo, que vem de encontro à ambição de ver construída a barragem\". \"Penso que a questão da queixa na Comissão Europeia será ultrapassada\", frisa. Satisfeito está, também, o autarca de Alfândega da Fé, João Carlos Figueiredo. \"É uma postura correcta do Governo, dada a relevância do projecto para a região\", opina, desejando que a declaração de utilidade pública \"contribua decisivamente para acelerar o processo\".

(...)

Eduardo Pinto in JN, 2006-10-13

Dois projectos. De um lado a unanimidade no acordo dos autarcas, do outro a divisão. Sinais.

1 comentário:

AJS disse...

Estaremos na mesma Região ? Em Torre de Moncorvo luta-se com todas as forças pela Barragem do Sabor, numa perspectiva de desenvolvimento para o concelho e não só, mas também para os concelhos de Alfândega, Freixo, Mogadouro... Aqui, pasme-se, luta-se contra a Barragem do Tua. E depois ouvem-se lamentos: - E nós a vê-los passar ! Enfim, vá lá a gente compreender estas alminhas.