Convenhamos que o efeito da minha participação não vem sendo o mais desejado. Afinal o que é preciso é contribuir, ser positivo, olhar em frente e imaginar tão só um presente radioso, que há-de trazer um futuro ainda melhor. O que se deseja é apenas que se olhe sem se ver. Ou então, que se veja só o que parece e não o que é.
Assim, não é muito recomendável, neste tempo que passa, escutar conselhos por mais piedosos que sejam. A não ser que estes sirvam de exemplo como contraponto, para que outros preguem a verdade ficcionada. Por tal circunstância não é assim possível encarar esta acção esforçada e solitária apenas como uma mera actividade não recomendada, de um qualquer clone de “D. Quixote” de Cervantes.
Se não houvesse “alucinados” que termos de comparação teriam os “detentores das verdades”, para fazer valer as suas realidades?
E volto assim a Cervantes para mergulhar no bom sucesso que o valoroso D. Quixote teve na espantosa e jamais imaginada aventura dos moinhos de vento e reter sobretudo uma frase dirigida por D. Quixote ao seu inimigo Frestão: “ Ao cabo do cabo, de pouco valerão as suas más artes contra a bondade da minha espada” – o que até o estimulava e lhe dava ainda mais força.
Registo em conclusão o prazer manifesto de me não sentir tão solitário nesta missão, outros antes de mim, no passado e no presente, souberam e sabem estar na vertical e com o seu exemplo e á sua maneira, provar onde está a razão.
Concluía recordando a memória de Um entre Outros a quem o cepticismo não invalidou que lutasse pela dignificação da espécie.
À Beira do Inferno
Aqui, onde o Inferno impera e Céu não há,
Onde, mais que sol, o sol é fogo, é brasa;
Sol que mata, Sol que arrefece e abrasa,
E o Inverno queima e gela ilusões…
Onde, só a coruja canta que arrepia...
E, na torre, o mocho comanda o Dia!
E, em vez de flores, o desespero é Primavera,
Que nos traz mensagens do pior ainda;
Aqui, a paisagem é fria e o terror não finda!...
Meu Deus!
Só germinam dor e desgosto,
E as chagas de Cristo cravadas no rosto…
Aqui, tudo é ilusão,
E o roncar do progresso,
- A tudo avesso,-
A vomitar poluição.
Aqui, a vida acabara
E, nem, por favor, ou graça,
A mão divina ampara!
E só o que é mau impera,
Esta a nossa…Primavera;
E a própria madrugada
È já luz apagada;
Aqui, o pior é bom,
E o silêncio é som;
E só a dor tem fala,
E a boca da revolta,
Complacente, cala!...
De tudo o que não há.
- O deserto, o abandono…
E o próprio amor
Desconsola, é fedor
À deriva, sem dono.
Onde tudo é nada;
E até mesmo a flor
Murcha envergonhada;
E se morre da doença,
De doença do - não é nada, -
E se acorda morto pela manhã
Da próxima madrugada.
E nem a morte se quer;
Que, de tudo, o remédio,
O remédio é morrer!...
E o crime se esconde
Sob as saias da!...
Justiça…
-Essa, então… que o mundo presa,
E que muitos nunca viram:
-A uns, porque se lhes nega,
E a outros, porque lha tiram!
Dr. Joaquim Morais Fernandes
Linhares, Julho de 1996
“Fogo e Lágrimas” (1997, p. 34)
Hélder Carvalho
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