01 dezembro 2005

Na última intervenção

que aqui tive, é possível que tenha sido mal interpretado. È o risco que se corre ao participar nestas coisas, de dar opiniões e de fazer apreciações.
Na verdade limitei-me a questionar uns elogios feitos á participação da nossa Junta de Freguesia em acções de apoio á educação de jovens em idade escolar.
Pensei eu que os elogios feitos pelo Sr. Professor José Alegre, poderiam não se justificar se, se provasse que tal contributo, não passasse de uma mera obrigação institucional.
Infelizmente não consegui encontrar na contra resposta do Sr. Prof. José Alegre qualquer argumento suplementar que me elucidasse sobre tal dúvida.

Sobre este meu papel de apenas criticar o que me apetece, neste Blog, tenho que começar por dizer que tal é generosamente permitido pelos criadores do dito. Eu só tenho tido que assumir a responsabilização do que digo e agradecer sempre a benevolência de me publicarem e permitirem mesmo criticar por vezes, a própria opinião dos criadores.

Nesta vertente das apreciações criticas, começa por ser pertinente perguntar-se, se há alguma coisa de construtivo naquilo que venho dizendo. Não darei a minha opinião mas, para aqueles que são responsáveis pelo Blog talvez seja útil questionarem este aspecto da minha participação. É um facto que as minhas apreciações vão geralmente dirigidas a quem considero responsável institucionalmente e politicamente pelo atraso da minha terra. Não me vêem fazer críticas a instituições religiosas, de solidariedade nem a voluntariosos.
Os elogios têm sido sempre bem feitos por quem julga merecê-los por tal facto me escuso eu a desempenhar esse papel.
Que bem seria que não houvesse motivos para se fazerem críticas!

Depois poderá perguntar-se que direito moral terei para fazer estas críticas!
O facto é que desde miúdo me vejo a intervir socialmente na minha terra.
Com cinco anos, talvez ainda não tivesse grande consciência disso mas, já me vejo nas fotografias a participar nas pastoradas, nos magustos e nos Carnavais. Veio seguidamente a catequese mas também o apoio nas cerimónias litúrgicas, o tocar do sino, e a participação nas festas e procissões. Depois houve a ida ao musgo para ajudar a fazer as cascatas dos Santos Populares, a ajudar a decorar as ruas com flores a colaborar nas marchas de bairro, a ajudar a organizar os bailes. A primeira participação em teatros foi aos quinze anos já com o saudoso Chaneco a ensaiar. Posteriormente veio a participação na organização das Festas da Vila, ao lado do actual Presidente de Câmara. Aos dezoito anos dei cabo de um joelho a jogar futebol com a camisola do Carrazeda. Pintei cabeçudos, pintei “ Alminhas”, pintei textos, decorei carros alegóricos, fiz cenários, decorei salões de baile (a primeira oferta que me deram veio da gentileza das Senhores da Cruz Vermelha que me ofereceram um livro sobre a obra de Picasso).
No 25 de Abril lá estive eu, pela calada da noite, a contrariar os textos que o P.C.P. tinha escrito nas paredes. Ninguém me critica, com argumentos, por não ter estado sempre ao lado dos oprimidos.
Quem se recorda da A.R.C.C.A. e da minha participação! Quem recorda a animação desse tempo!
Quando acabei o curso vim “fazer a tropa” para a minha terra. Não me limitei a dar as minhas aulas.
A primeira exposição que realizei foi feita na minha terra.
Quando mais tarde voltei, foi para ajudar no recreio, na cultura e educação dos meus conterrâneos. Quem se recorda dos primeiros cursos de formação, da educação de adultos, da representação dos Zíngaros na ida á Alemanha, Da representação do 10 de Junho no Porto, nas viagens de estudo organizadas, das exposições temáticas e de artistas da região, dos levantamentos de património realizados, dos iniciais boletins municipais da C.M!
Só me fui embora daqui, quando vi que não era benquisto pelas instituições de quem dependia.
Entretanto fui aproveitando para ensinar o que sabia da minha experiência profissional. Ajudei alguns a evoluir e fazerem pela vida.
Politicamente participei em três campanhas autárquicas e outras. Como independente, eleito pelo P.S. estive em duas Assembleias Municipais e numa Vereação. Aqui, nunca me faltou disponibilidade para o trabalho, nem ideias e sugestões a dar.
Hoje não me considero grandemente responsável pela penúria e atraso económicos, pela apatia e pobreza de espírito e pela anemia cultural da grande generalidade dos residentes na minha terra.
Por tudo isto e algo mais, me julgo hoje com o direito moral de fazer as minhas críticas. Considero mesmo que este é o último gesto de que me sinto capaz, no sentido de contribuir ainda para ajudar a minha terra.
Como se sabe restará por fim a indiferença.
Agora, e retornando o assunto inicial, pedia encarecidamente ao nosso Professor que me elucidasse sobre se realmente existe da parte da nossa Junta de Freguesia, algo de generosidade, de voluntarioso de prestável, que vá para alem das obrigações que lhe cumpre, no apoio que vêem dando aos nossos alunos da instrução.
E já agora pedia mais. Pedia-lhe a si pessoalmente que me dissesse se o seu envolvimento neste projecto também vai para alem daquilo a que é obrigado. Assim quando, como cidadão carrazedense reconhecido, agradeceria a todos ao mesmo tempo o serviço desinteressado que prestam á comunidade.

Notas :
- Como devia saber o Prof. José Alegre, ele é uma pessoa que passei a admirar pela sua capacidade intelectual, pela cultura, pela generosidade pelo que hoje também o considero um amigo. Por tal facto jamais empregaria os termos que lhe assistem de Professor /Doutor, em tom depreciativo.
No que me diz respeito, assumo estes termos com um sentido de responsabilidade acrescido. Estou consciente de que não os consegui sozinho e que os devo também, á sociedade, que criou também as condições para os ter conseguido. No meu dia a dia vou fazendo o que posso para pagar esta divida.

- Apreciei mais uma vez as considerações que o Professor J.A. nos fez sobre a sua visão descentralizadora da gestão escolar e do ensino.
Fica-me apenas aquela dúvida de saber se ainda se irá a tempo de conseguir tal desiderato. Afinal, já falta a parte mais importante para atingir tais objectivos, no nosso interior geográfico e que é a existência de alunos. E aqui entramos novamente naquela dialéctica de se saber de quem é a culpa.

Hélder de Carvalho

Sem comentários: