12 setembro 2005

Maus Tempos

É tempo de eleições locais, de nervos à flor da pele, de desabafos pouco medidos, de insultos gratuitos sob a capa do anonimato, de pouca sensatez e reflexão.
É tempo dos candidatos sorrirem e se mostrarem nos sítios do costume: a igreja, a procissão, a romaria, de pagar a despesa nos cafés aos potenciais votantes e de se revelarem cordatos com todas as considerações que ouvem, mesmo as mais incríveis. É tempo de promessas eleitorais pouco pensadas e irresponsáveis que pretendem o aliciamento fácil e o lançar do engodo aos mais distraídos.
É tempo dos arrivistas se juntarem à opção possivelmente ganhadora para dela retirar dividendos pessoais ou para os seus. Se alguns ficam espantados pela facilidade com que se muda de camisola, mais surpreendidos ficarão, pois virão dias mais reveladores, as caravanas dos potenciais vencedores irão crescer de dia para dia. Se a indecisão for grande até aos últimos minutos, olhe-se para a festa da vitória e ver-se-ão muitos desta espécie, pela primeira vez, jurando que sempre acreditaram.
É tempo de alguns se colocarem em bicos de pé, pois são pequenos de carácter e natureza. Uns para se mostrarem e dar nas vistas e demonstrarem uma radicalidade imbecil prenhe de violência verbal gratuita para com os adversários; outros esgrimem argumentos, que pisam a raia da incivilidade e a baixeza de propósitos. Esquecem que assim ficam ainda mais pequenos.
É tempo de imitar o pior dos debates televisivos e da política nacional, o de não ouvir os outros, de os achincalhar e atacar com argumentos mesquinhos. De considerar inimigos “a abater” aqueles que connosco não concordam ou de esperar, em caso de vitória, de ajustar contas com os opositores.

É um tempo difícil …

Muitas das reflexões, aqui feitas, com intuito construtivo são mal interpretadas e por isso incompreendidas. Move-nos o desejo de problematizar as situações, dar achegas baseadas em bons exemplos, juntar saberes e impulsionar vontades.
Arredados da esfera do poder e das lógicas partidárias, por desejo próprio ou por condicionalismos vários, não abdicamos da intervenção pública, da discussão dos problemas locais, do apontar caminhos alternativos. A vida municipal, a utilização dos dinheiros públicos, as opções por este ou aquele equipamento público, as políticas educativas, sociais, culturais, ambientais, a escassez ou abundância de obra a todos dizem respeito e não só aos partidariamente empenhados.
É complicado exercer o direito de pensar e debater, quando as reflexões produzidas não aparecem associados à lógica dos partidos, espartilhada e pouco democrática. Numa terra pequena e do interior, qual aldeia grande, promover uma discussão livre e alargada quase sempre esbarra com interesses instalados, a boçalidade, o “ser apontado a dedo”. Muitos pensarão erradamente que o objectivo é atingir-se particularmente esta ou aquela candidatura, interesse ou pessoa. Isso piora muito quando o hábito do debate é pouco ou inexistente e é o caso.
O que vemos, ouvimos, lemos e sentimos dá-nos o direito de sobre isso opinar, apesar de ser um tempo…

Serenidade e bom senso precisa-se

Apelamos à serenidade e bom senso dos participantes no blogue e que a discussão dos temas se faça dentro das fronteiras do civismo e do bom relacionamento humano. Sabemos que alguns só procuram a maledicência dos comentários e nem sequer lêem, debatem, produzem assuntos que convidam à reflexão. É mau. Salvam-se honrosas excepções.
Aqui apresentámos vários contributos para a definição de uma política cultural, falámos da construção em Carrazeda, dos ciganos e da condições em que vivem, do centro escolar, das novas tecnologias no interior, da feira da maçã, do museu etnográfico dos Mogos, da festa da Lavandeira, etc., etc.… Pouco eco conseguimos. Houve debate a propósito dos incêndios, do aproveitamento turístico do concelho, pouco mais... Por vezes, parece-nos uma tarefa inglória e vã a que porfiamos.
Sabemos das dificuldades e não escamoteamos possíveis erros cometidos. Não queremos ser perfeitos, porém movemo-nos dentro da liberdade responsável, assumida.
A utilização da ironia, da crítica mordaz e da frontalidade esbarram, não poucas vezes, na incompreensão e intolerância.
Expomo-nos de cara descoberta e queremos conquistar esse espaço de reflexão séria e descomplexada. Pensamos ser esse o caminho certo a que convidamos todos.

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