10 novembro 2004

A construção em Carrazeda 2

O conceito de património deriva do latim patrimonium que significa bens, haveres ou herança. Estes bens materiais ou imateriais transmitidos pelos antepassados constituem uma herança colectiva que importa cuidar para que a nossa memória comum se preserve.
Os atropelos feitos à paisagem habitacional do concelho vem de muito longe. A emigração semeou casas feias, desenquadradas, pensadas para outro clima e contexto. A falta de recursos e incentivos e o desconhecimento de programas de reconversão e reconstrução aliada à ausência de fiscalização e planificação autárquica fez o resto e existem diversos exemplos a lamentar.
Se olharmos à nossa volta pouco ou nada foi feito para manter a imagem de ruralidade e de preservação da casa tradicional. Abundam nas aldeias do concelho construções típicas e belas em avançado estado de deterioração, mas parece-nos não haver uma política, um plano ou tão só um desejo para preservar este património. Ao longo dos tempos, temos ouvido falar de programas financiados pelo estado ou pela comunidade europeia para recuperação de casas antigas. Tirando um ou outro caso pontual, nada se vislumbra resultado destas políticas ou tão pouco de qualquer movimentação municipal nesse sentido.
Algumas intervenções de recuperação de casas antigas e tradicionais são, no mínimo polémicas e roçam, quantas vezes o mau gosto. As novas habitações não respeitam os materiais de construção autóctones, aparecem muitas vezes desenquadradas e são quantas vezes aberrantes. Se compararmos alguns bairros, ditos sociais, com outros de concelhos vizinhos ficam a perder em sentido estético. As urbanizações concebidas inspiram-se em conceitos citadinos, alguns ultrapassados, com ruas sem saídas e estreitas, passeios minúsculos onde não se cruzam duas pessoas e se permitem todo o tipo de construção desde a casa “tipo maison” à arquitectura mais vanguardista num puzzle incompreensível.

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