15 setembro 2004

Festa de Santa Eufémia II

A festa de Santa Eufémia, em Lavandeira, é a maior romaria do concelho de Carrazeda de Ansiães, também conhecida por “Festa da Marrã”, já que é tradicional cozinhar-se carne de porco fresca, a que chamam marrã. Assim, todos os anos, nos dias 15 e 16 de Setembro, tem lugar esta grandiosa festa em honra da Santa, à qual se dirigem milhares de forasteiros.
A festividade tem perdido importância ao longo dos anos, fruto de vários factores.

A Santa Eufémia, mártir dos primeiros tempos da igreja cristã, agregou à sua volta um grande fervor religioso e popular. A sua irmandade estende-se por vários concelhos e agrega centenas de irmãos que para ela contribuem monetariamente. Todos os anos, a Comissão Fabriqueira percorre variadas aldeias para recolha de fundos. A ela se roga em momentos de grande aflição – na “parição” das crias, nas doenças, nas intempéries… e se fazem promessas pagas em pecúnio, em azeite, cereal, cera, e esforço físico (de joelhos, de rastos...)

Para além da componente religiosa acresce a parte pagã, também ela muito interessante que vai buscar raízes ao porco ( marrão ou borrão), símbolo de fertilidade e antiga divindade. Os folguedos estendem-se pelo convívio, o negócio das barracas de quinquilharias, dos doces e pirolitos, a procissão, o arraial, o fogo de artifício e a principalmente a degustação da marrã.

A carne de porco era o principal “peguilho” das nossas gentes do campo, pois em todas as casas se matava o "requinho", cujo tamanho era directamente prporcional às posses de cada.. Depois do jejum de vários meses em que as salgadeiras se esgotaram e só a Páscoa trazia um pouco de cabrito ou as ceifas e malhadas um pedaço de ovelha e cabra, intervalada com uma ou outra galinha caseira, chegava a grande festa da carne do porco. As tasquinhas espalhavam-se pelo exíguo espaço do adro e as "comezainas" prolongavam-se por muitas casas particulares que se abriam ao negócio. O manjar incluia para além da marrã (carne assada), os rojões, os ossos da assuã... dos bácoros caseiros tratados com as viandas substantivas e polvilhadas de farelo.

Principalmente para os habitantes, como eu, da “Poça” (Lavandeira, Selores, Seixo de Ansiães e Beira Grande), a festividade era o grande acontecimento anual pelo seu cosmopolitismo, na diversidade de gentes que ocorriam e todo um conjunto de práticas e vivências - coisas nunca vistas, sabores nunca provados, sensações nunca experimentadas.

A festa da Marrã é um património concelhio que urge preservar e revitalizar.

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