Que sorte! : José Manuel Pavão

Que sorte, terá murmurado baixinho Jardim Gonçalves quando ouviu o Ministério Público pedir uma pena de 5 anos de prisão que poderá ficar suspensa, caso o homem grande do Banco Comercial Português, pague uma indeminização de dez milhões de euros. Leram bem? 10.000 de euros!...

Que pena, dizemos nós leitores e acompanhantes do longo processo judicial que leva já no seu rasto valores de muitos milhões por irregularidades cometidas no exercício de funções no sector bancário.

Que pena, de facto, que este julgamento não tenha decorrido nos “States”, onde por certo o banqueiro mais badalado e mais sortudo do nosso país já estaria à sombra há muito tempo a pagar à sociedade pelos excessos e desvios cometidos.

Nada temos com os senhores magistrados que exercem as suas funções nos tribunais portugueses, sejam eles do Ministério Público que investiga, avalia, tira conclusões e propõe sanções ou dos Juízes que ouvem, refletem e ditam sentenças. Temos sim com a justiça portuguesa que não obstante as duras criticas que vamos lendo nos jornais e uma ou outra medida tomada pelos sucessivos governos, se continua a mostrar lenta, permissiva às inúmeras habilidades processuais e branda para os delinquentes quer sejam insinuantes e bem aperaltados banqueiros, assaltantes encapuçados ou incendiários dementes e vingativos.

O caso do Banco Privado Português, BPP, por exemplo, onde os depositantes viram desaparecer os seus investimentos catalogados de “retorno absoluto” e que só agora vai à barra dos tribunais é um bom testemunho do que aqui deixamos registado.

Claro que no BCP o homem não está sozinho no processo, tendo como seus acólitos nomes bem conhecidos da banca e cujas punições estão avaliadas também em milhões de euros.

É que durante anos, esta elite financeira driblou os mercados, fintou os confiados depositantes, fixou valores e escondeu prejuízos. Viveram à fartazana! Mesmo assim, os seus advogados com o rosto mais seráfico deste mundo, clamaram pela sua inocência…

Para bem de todos, em defesa da dignidade do país e suas instituições, era desejável que processos desta e doutra natureza não se arrastassem indefinidamente no tempo, amolecendo provas, esbatendo razões de tal modo que a verdade vá definhando até que, incapaz, soçobrará à argucia e manha dos defensores.

Só assim, os eleitores e contribuintes deste país voltarão a ter confiança nas suas instituições.

Porto, 16 de Outubro de 2013

José Manuel Pavão