19 outubro 2010

Carlos Fiúza: Política - a beleza universal de uma palavra

Política - a beleza universal de uma palavra

Afirmo que não venho com pretensões de endireitar o mundo, até porque quem torto nasce tarde ou nunca se endireita, e o mundo humano nasceu com aquele disparate do Adão e mais a Eva.
Ele comeu a maçã e a gente agora que se avenha.
Não venho discutir os méritos de uma ou outra forma de governo dos povos.
Em suma, não venho discutir “política”, mas tão só filosofar filologicamente a respeito de algumas palavras que hoje nos enchem os ouvidos e nos cansam os lhos.
Quem há aí tão feliz que não seja a todo o instante obrigado a pensar no que seja a “política” e mais palavras de “política”? Ninguém, porque a política é a “senhora” do Mundo.

Creio que todos concordarão em que uma das palavras que mais se usam e, portanto, mais se têm gasto no mundo é a palavra “política”.
Etimologicamente, “política” era a técnica de governar a cidade, e, por extensão, o governo do Estado.
O homem é, de facto, um animal “político”, se a noção de “político” for esclarecida e prestigiada pelas luzes etimológico-filológicas e históricas.
Cada homem, acrescido da sua cara-metade, ou sem ela, associa-se, no convívio com outro. E esse outro com outro. E outro e mais outro.
A vida precisa de força. Dos fracos não reza a história, a não ser a história das desgraças.
E como se obtém a força? Com a união, porque é esta que faz a força.
Assim nasce, naturalmente, a tendência para a associação humana, para a sociabilidade. O homem é, pois, um ser sociável. A vida impõe que os homens se tornem “sócios” ou “companheiros” uns dos outros na luta pela sobrevivência. Ora, se o homem é um animal sociável, também por isso mesmo é um animal “político”, na essência desta noção.

Tomemos uma real imagem das sociedades humanas. Esta, por excelência – uma cidade.
A “cidade” é o produto mais visível da sociabilidade humana. A “cidade” é a imagem da união que faz a força. Mas que força? A força desordenada? Claro que não.
“Cidade”, e “civilidade”, “civilização” – são palavras que se prendem com “civilis”, digno da “cidade”, considerando-se o adiantamento social da “cidade” em confronto com a vida mais atrasada fora dela.
Na “cidade” vemos o resultado da necessidade humana de conviver, para viver.
Mas, como o homem deixa de ser homem, quando não vê diante de si nada mais do que a luta pelo bocado, isto é, quando deixa o estômago dirigir o coração ou o cérebro, segue-se que, desde tempos imemoriais, foi preciso estabelecer nos aglomerados humanos as leis do governo “coletivo”, em defesa da “civilidade”, e com vista à “civilização”.
Pois bem.
“Cidade” em grego era “polis”. Ora, a cidade, “polis”, a aglomeração máxima, precisou sempre de administração, de governo.
A arte de governar a “cidade” chamou-se, por isso, “politiké”, subentendida a palavra “tétkne”, arte, ciência.
Destarte, compreende-se que a “política” seja, etimologicamente, a técnica de governar a cidade e, por extensão, a ciência de governar o Estado.
Ah! Mas os bípedes implumes, estes seres irrequietos que povoam a Terra, são crianças grandes; e estragam os brinquedos, e brincam com as coisas sérias.
E assim foi possível que a palavra “política” (em todas as línguas) se abandalhasse, de tal modo que hoje muita vez apenas significa agitação, intriga à roda do poder.
O povo, espertíssimo sempre em descobrir o fraco das palavras, não deixou de perceber o lado desfavorável e a vacuidade dos termos “políticos”.
Assim, repare-se na ironia em que a “política” chegou a cair, na observação dos que a viram a servir de manhas, astúcias, desinteligências, lutas de interesses e algo mais deste jaez:
- “Ele é político”, quer dizer, é espertalhaço, é manhoso, é atrevido.
- “Ele agora anda muito político lá com o compadre. Não se podem ver. São como o cão e o gato”.
Enfim, a palavra “política” está tão mal gasta, caiu em tal desprestígio, que até adivinho que parecem do outro mundo aqueles autores que usavam “político”, no sentido de “civilizado”, como o Padre Vieira.
Diante do que se tem visto no panorama do Globo, chega a gente a pensar, na verdade, que mais avisados andam aqueles que emendam o primeiro sentido de “política”, e passam a considerar esta infeliz e desprestigiada palavra como símbolo de desentendimento.

Continuemos, pois, a ser animais “políticos”; mas repilamos o que a palavra nos traga à lembrança de artificialismo, de perfídia, de desordem.
Façamos reanimar a palavra “política” do seu espírito de “civilidade”, de “civilização” e não a deixemos avançar para a barbárie, para a ferocidade do “homo hominis lúpus”…


Carlos Fiúza

3 comentários:

Anónimo disse...

Ao contrário de Carlos Fiuza eu digo:-
POLITTICA A PODRIDÃO DE UMA PALAVRA E UMA DAS MAIS PORCAS DAS PALAVRAS.
É também isto que acho de todos os politicos,podendo acrescentar no que a estes respeita, OPORTUNISMO,COMPADRIO,MENTIROSOS, PESSOAS QUE SÓ CONHECEM AS PESSOAS QUANDO HÁ ELEIÇÕES POR ISSO TAMBÉM LHE PODEMOS CHAMAR CALCULISTAS.
Da esquerda ao centro,á direita à extrema direita venha o diabo e escolha.
É tudo farinha do mesmo saco.

Anónimo disse...

Meu Caro,

Por favor,não confunda a nuvem por Juno...
A política, etimologicamente, é uma palavra bela...
Está a ser mal empregue?... Está a ser deturpada na sua essência?...

Isso é culpa do homem, e só dele!

CF

Anónimo disse...

Etimologicamente POLITICA:
Desenvolvimento de idéias, planejamento e ações que possam atender os interesse de uma sociedade, projetos elaborados para beneficiar ao Povo.

Este o seu verdadeiro significado, mas para que resulte não podem haver "VAMPIROS", aqueles camuflados que ...comem tudo, comem tudo e não deixam nada...


dixit...