14 janeiro 2008

Mais do mesmo

A escolha da construção do novo aeroporto para o campo de tiro de Alcochete tornou-se uma decisão quase consensual e é aplaudida de norte a sul do país. Todos os partidos, todos os técnicos, a grande maioria da população portuguesa parece vergar-se ao peso do estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil. O Sul porque sim, é mais um instrumento que vai trazer mais pessoas, potenciar a troca de mais mercadorias, mais investimento público e comunitário. A região Norte respirou de alívio, rejubilou e descansou pela defesa da manutenção da importância do seu aeroporto Sá Carneiro; através do seu ascendente paladino que mais se afirma na região, o Dr. Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto vangloria-se com o seu contributo e promessas de estudo ter esvaziado a Ota e afastado a sombra do aeroporto para mais longe da sua área de influência. Os partidos da oposição cantam vitória, pois conseguiram demover o “jamais” do ministro Mário Lino e pela primeira vez, não me lembro de outra, de fazer recuar a denominada “firmeza decisória” do nosso primeiro-ministro. O governo esfrega as mãos porque conseguiu fazer vingar a velha receita do betão que significará mais empregos, mais negócios e em consequência mais votos. As grandes empresas têm as perspectiva de grandes negócios. O povo está feliz porque acabou a barafunda e a novela já tinha ultrapassado o prazo de validade.
A opção pela Ota era um investimento muito mais descentralizado e na perspectiva do desenvolvimento do país criava um pólo dinamizador de progresso, mais centrado em termos geográficos, alargando a sinergia de desenvolvimento para além da área metropolitana de Lisboa e da península de Setúbal. Alcochete acrescenta mais uma ponte sobre o Tejo, mais estradas, mais um ramal de TGV, mais infra-estruturas, mais investimentos públicos e privados que irão também ser euro-financiados. Uma grande quota do bolo das verbas europeias, das finanças públicas vai ter um claro destinatário – a zona do país mais desenvolvida. Aí se vai concentrar mais riqueza e mais população continuando a alargar-se o fosso com o resto do país. Continuaremos a construir um país cada vez mais desequilibrado e centrado. O que vai sobrar serão uns trocos.

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