21 dezembro 2007

ACASO OU IGNORÂNCIA?

A ideia que nos tempos mais remotos se tinha sobre o eclipse, não corresponde à dos dias de hoje. As justificações para o fenómeno foram-se sucedendo, à luz do conhecimento actual são ridículas e mesmo vistas como puro delírio, até que foi possível satisfazer a curiosidade humana com base na evolução da ciência. A desmistificação e a explicação científica de fenómenos que antes para nós eram desconhecidos, foi possível como resultado da evolução do próprio saber. Esta construção processa-se de uma forma prodigiosa - o que hoje é a verdade, amanhã já não é possível sustentá-la. Os mecanismos de suporte à investigação são cada vez mais sofisticados. Justificarmos como ignorância, aquilo de que não possuímos conhecimento e, ao mesmo tempo instalar a dúvida em todas as certezas actuais, invoca esperança no pensamento humano e consequentemente a possibilidade de se poder ser útil.
Na verdade, esta razão de esperança foi induzida por Karl Popper ao afirmar que, embora todos os cisnes observados até hoje fossem brancos, não podemos pressupor a não existência de cisnes negros, por outro que não seja o factor do nosso desconhecimento. Daqui se concluiu que nenhuma teoria científica se pode pretender absolutamente certa podendo ser gradualmente mutável até mesmo pelo acaso, o que leva Popper a transformar o próprio conceito de ciência que passou a ser sinónimo de incerteza, ou melhor, de fiabilismo, como ele denomina.
Laplace ao estudar a Lei dos grandes números institui a ideia de que por conhecermos determinado espaço amostral podemos determinar com mais ou menos grau de probabilidade acontecimentos aleatórios. Embora tenhamos conhecimento das condições iniciais torna-se impossível a determinação de um acontecimento dada a instabilidade subjacente às variações do processo, que mesmo sendo pequenas no seu conjunto originam resultados bastante distintos.
A formação de uma nuvem, por exemplo, embora se realize em condições que são conhecidas, não podemos determinar a sua forma. E é deste jeito que se anuncia a teoria do Caos.
Embora nos pareça perfeitamente possível o ocasional ser estudado e entendido num breve futuro parece-nos ilusório admitir o determinismo na Natureza, já que todos os sistemas que nela se incluem não possuem consistência e por isso previsibilidade, desse modo, a vida no Planeta deixaria de ter graça e até sem sentido. Procurar a uniformidade da mesma, nunca seria inequivocamente benéfico para o Homem.
Julgarmos que cientificamente tudo seria possível, é admitir o fim do conhecimento como processo evolutivo.

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