05 setembro 2006

Pensar dos leitores

Depois de ter sido informado pelos serviços de cultura do Município de Carrazeda de Ansiães acerca da existência do projecto “Offfffficina de LEtras” decidi inscrever-me. Os objectivos eram aliciantes, o formador era reconhecido nos mundos da literatura e da música, o espaço era agradável e era necessário condimentar o Verão com algo diferente; então, estavam reunidas as condições para algumas horas bem passadas sob a varinha de condão dos grandes letristas nacionais, em particular, e da boa música portuguesa, em geral.
O grupo era semi-heterogéneo. Semi porque apesar de todos termos diferentes interesses e áreas de estudo, estávamos ali pela música, para encontrar a mensagem. Mensagem esta que se podia desdobrar em várias e bem diferentes, daí a importância da multiplicidade de interesses patente no grupo e consequente existência de distintos pontos de vista.
Para que a mensagem latente numa letra, ou canção como um todo, fosse alcançada eram necessárias, por vezes, repetidas audições, eram expressadas opiniões (muitas vezes contraditórias, mas construtivas), era efectuada uma leitura da letra como poesia (porque as letras musicais são poemas, são literatura, daí a existência de várias interpretações para o mesmo segmento de texto), era estudado o perfil do letrista, a ambiguidade expressa nas suas palavras, a ironia, o escárnio, a sátira.
Foram, literalmente, dissecados textos desde os tons mais suaves (mas não lamechas…) de Regina Guimarães (Três Tristes Tigres) ou Carlos Tê (Clã) aos registos mais fortes de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), passando por Sérgio Godinho, Manuel Cruz, JP Simões, Jorge Cruz, JP Coimbra, Francisco Silva, Kalaf, Darin Papas, António Avelar Pinho, Francisco silva e, por fim, mas não menos importante, Rui Reininho (incluindo “Revistados”).
Fomos um dia surpreendidos pela visita de mais um grande nome da Literatura: Gilberto Pinto. Nosso conterrâneo com o qual desenvolvemos um diálogo aberto que caminhou por trilhos tão distintos quanto a escrita de romances, a história greco-romana, a música ou mesmo a entropia (Segunda Lei da Termodinâmica).
Concluindo, saí da “Offfffficina de LEtras” consciente de que neste momento sou uma pessoa musicalmente mais culta (inclusivamente comecei eu próprio a escrever letras musicais), reforcei e criei novos laços de amizade, instruindo-me também a outros níveis através da reflexão e da discussão a que vários temas foram sujeitos durante estas oito tardes de Agosto extremamente produtivas.
Não poderia terminar sem antes parabenizar, em meu nome pessoal e em nome do grupo, o Município de Carrazeda de Ansiães por nos ter proporcionado esta actividade e o nosso formador, o Professor Vitorino Almeida Ventura, pela forma exímia como nos guiou pelo maravilhoso mundo da música.


Alexandre João Quinteiro

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