As condições em que vivem os ciganos em Carrazeda são inarráveis. A reportagem do Jornal de Notícias ( "Só Deus sabe o frio que passamos no monte" ) de ontem chama mais uma vez a atenção para o problema.
O contexto degradante só pode ser compreendido "in loco". A descrição feita peca por ser demasiado suave: "no alto do concelho de Carrazeda de Ansiães, centenas de pessoas improvisam uma espécie de casas abarracadas cobertas de chapas de zinco e revestidas a madeira. O cheiro é nauseabundo. Os esgotos correm a céu aberto. A recolha de lixo só é feita quando Deus quer. Por todo o lado se observam carcaças de carros e outra sucata,como frigoríficos ou fogões..." Acrescente-se a isto que muitos dos residentes são crianças e idosos, habitam na mesma cabana muitas pessoas e a promiscuidade é intolerável.
Escudamo-nos no nosso comodismo, na política de avestruz, no deixa andar e não enfrentamos a questão de frente. Para que nos servem tantas estruturas e programas de apoio social: protecção de menores, misericórdia, igreja, cruz vermelha, combate à pobreza se nunca soubemos contornar a condição aviltante? É bonito e proveitoso a elas pertencer, pois nos promove em termos sociais, nos alivia a má consciência, nos enriquece o curiculum, ou então permite nada ter que se fazer perante tantas impossibilidades.
Angariam-se fundos, fazem-se campanhas para combater iniquidades nos lugares mais díspares do mundo e esqueçamos o que se passa ao pé da nossa porta. As resistências culturais da comunidade cigana não podem explicar a continuidade das dificuldades de resolução. Para nada fazer comenta-se "já lhes arranjaram habitações e eles quiseram regressar ao acampamento", "a segurança social portuguesa distribui avultadas verbas pela comunidade cigana que são desbaratadas". Tudo serve para se encolherem os ombros, mas há soluções. Bastava copiar algumas de outros municípios. Apenas uma sugestão, por que não providenciar um espaço digno com balneários e infra-estruturas apropriados para eles poderem viver em comunidade e de acordo com os seus usos e costumes?
Sem comentários:
Enviar um comentário