13 janeiro 2013

A “chinesice dos swaps” (Parte II): Carlos Fiúza



Em Setembro de 2012, escrevi:

“Uma empresa que tenha dívidas indexadas à Euribor (por exemplo) pode fazer um “swap” e transformar a sua taxa variável numa taxa fixa. Quando a Euribor sobe, a empresa paga mais pela dívida mas recebe mais no “swap”. Mas quando a taxa desce, perde no “swap” ainda que pague menos juros da sua dívida.
Acreditem, ou não, foi exatamente isto que aconteceu à maioria das nossas empresas públicas (e que desde 2008 “apostaram” neste tipo de contratos).
A intenção era (como já compreenderam) protegerem-se contra a subida das taxas de juros.
Infelizmente “apostaram” no cavalo errado… as taxas dos juros (após um “pico” em outubro de 2008) começaram a cair e nunca mais voltaram aos valores anteriores.
Ganhou quem manteve as taxas iniciais (as suas dívidas diminuíram) … perdeu quem apostou neste derivado financeiro (e foram, infelizmente, a maioria das nossas empresas públicas).
Segundo dados oficiais do Banco de Portugal, em 2009, a perda potencial destes contratos estava em cerca de € 1000 milhões… em 2010 essa perda já estava em € 1,6 mil milhões… em dezembro de 2011 atingia € 2,4 mil milhões.
Os números são impressionantes, mas são os oficiais… e representam o que as empresas públicas perderão nos seus “contratos de futuros” até à maturidade dos mesmos.
E algumas maturidades vão para além de 2020!
Mas não é tudo…
A Direção-Geral do Tesouro e Finanças estima que as empresas públicas tiveram, só no segundo trimestre, quase 695 milhões de euros de prejuízo…
Leram bem: quase 695 milhões de euros de prejuízo, o que representa (segundo a mesma fonte) um agravamento de 94% face ao segundo trimestre de 2011.
E as perspetivas não são animadoras: não se esperam subidas nas taxas de juro tão cedo (mexer na Euribor, subindo-a, só talvez lá para 2014) o que torna impossível recuperar parte das perdas potenciais.
Que fazer, então?
Caberá ao IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (como se sabe a entidade que ficou responsável pela gestão dos derivados das empresas públicas) renegociar alguns desses contratos… antecipando maturidades ou terminando-os mesmo (se possível).”

Infelizmente os meus receios confirmaram-se (ver secção de Economia/Expresso).
A Euribor, nos seus prazos a 3, 6 e 12 meses teve uma queda de 0,6 pontos, o que representa uma perda da ordem dos €500 milhões (dados do Ministério das Finanças no seu Orçamento para 2013), pelo que todo o processo está já na Agência de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP) para ser preparada uma estratégia de renegociação com os bancos envolvidos (Morgan Stanley, Merryl Lynch, Barclays , principalmente).
Como então referi, a negociação não se antevê “suave” (mais de metade dos contratos têm vencimentos para além de 2020).
A agravar toda esta renegociação existirá o facto de não se saber, exatamente, o verdadeiro valor de mercado dos contratos. É que muitos NÃO são aquilo que se chama, em linguagem financeira “plain vanilla”, ou seja, contratos simples em que uma parte paga uma taxa variável (a Euribor, por exemplo) e, em troca, recebe uma taxa de juro fixa.
Receia-se que a maior parte destes contratos sejam do tipo “step up swaps”, em que o montante de referência, sobre o qual é calculado o juro a pagar, aumenta com o passar do tempo. Isto significará que as nossas empresas públicas poderão estar a perder não apenas com a descida das taxas de juro como a descida será amplificada por este mecanismo.
Volto a perguntar (já que ninguém me informa):
- Qual a razão de muitos destes contratos (a maioria, segundo consta) terem sido celebrados numa altura de descida das taxas de juros (2008)?
- Não “paga” o Estado o suficiente para ter técnicos à “altura”? E se “paga”, estariam eles a dormir ou a assobiar para o lado?
- Não era já visível que esta estratégia financeira seria desnecessária e até penalizadora para o erário público (leia-se: contribuintes)?
- Não saberá (ainda) o Ministério das Finanças que a “tendência” de taxas baixas se manterá enquanto a crise na zona euro continuar?
- Não saberá (ainda) o Ministério das Finanças que as perdas vão continuar?
- E não há responsáveis?
Mistério!... (ou talvez não).
Por mim, estou envergonhado de ter tido razão.

P.S. Veja o gráfico (Expresso) representativo da evolução das perdas (só em swaps)… e PASME!

1 comentário:

Anónimo disse...

Estes artigos são de um valor inestimável por nos fazerem ver quão dependentes estamos hoje nas nossas vidas destes pormenores e jogos financeiros, como eles podem ter muito mais importância que o trabalho honrado na solução dos nossos problemas.
Vejamos,por exemplo, o caso dos fundos de pensões,que devem ser valorizados para poderem mais facilmente pagar as reformas mensais.
Tudo está bem quando os ventos sopram de feição e,sobretudo,quando sabemos jogar com as oscilações do mercado.
Só que por vezes cometemos graves erros ou temos o azar de o azar nos atacar.
E muita coisa pode ficar em causa.
Entrar no jogo pode salvar-nos ou perder-nos. Mas,sem a rentabilização do dinheiro parado,muitas vezes não obtemos receitas para obviar aos gastos necessários.
JLM