24 julho 2010

Uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma

Berta Nunes, presidente da Câmara de Alfândega da Fé descobre que as barragens não têm trazido as riquezas esperadas para a região. Se quisesse ser um pouco mais explícita e realista diria que as barragens não têm trazido nenhuma mais-valia para Trás-os-Montes. No mínimo curiosa é ainda a tomada de consciência da edil alfandeguense que em declarações ao "Nordeste" reconhece que ninguém sabe quanto vai receber, nem como vai ser gerido o dinheiro. Os prazos e as expectativas não têm sido cumpridos. Esta é a mais honesta tomada de consciência que já vi dos autarcas transmontanos perante o folclore e a propaganda da elétrica nacional. O negócio das barragens no Douro, Tua e Sabor constitui para a EDP um negócio chorudo que não tem contrapartidas para as populações do interior transmontano. 

Perante a passividade dos agentes locais, a inércia dos autarcas que os não souberam aproveitar em mini-hídricas, a EDP aproveita recursos locais para gerar lucros e pagar prémios principescos aos seus gestores: 3 milhões a Mexia no ano transacto, e deixa apenas propaganda e falsas esperanças. A areia para os olhos é-nos atirada por um conjunto de iniciativas que mais não fazem do que dourar a pílula e mascarar os fortes impactos ambientais que provoca nas nossas paisagens. É o caso do chamado programa de "apoio social às populações abrangidas pelos novos projectos hidroeléctricos", da distribuição de lâmpadas economizadoras, iniciativas que não cobrem qualquer campanha publicitária como a ocorrida com o concerto “Terras de Água” em Alqueva ou no Alto Lindoso.

Agora para encher o olho propõe a criação de um parque regional Sabor/Tua no valor de uns presumíveis muitos milhões de euros. Não se sabe ainda muito bem qual a área abrangida, quanto se vai gastar e quem o vai gerir. Porém o rebuçado foi lançado e a água da boca dos ingénuos começa a correr de forma desenfreada. Não valerá de nada gritar que o rei vai nu, mas que vai, vai.

19 comentários:

Anónimo disse...

Nós por cá havemos de começar a interrogar o nosso Edil que começou com muitas "ganas" e já se vê num êxtase de poder, qual Eugénio de Castro, mas em ponto pequeno!
Isto é tudo uma treta de políticos que só nos apetece mandá-los p\rá...outra banda!

Anónimo disse...

Muito oportuno e pertinente este texto de José Mesquita. Na verdade, a autarquia local é que tem de defender "com unhas e dentes" todo o seu património em todos os aspectos (ambiental, histórico, cultural, paisagístico, arquitetónico...). PARA ISSO SÃO ELEITOS...
h.r.

Anónimo disse...

" Ninguém conhece quem sou
Nem eu mesmo me conheço
E, se me conheço, esqueço,
Porque não vivo onde estou " F.P.

Anónimo disse...

Entre as expressões enfáticas das mais bem pensadas, o nosso Povo tem esta: defender-se com unhas e dentes.
Está-se a imaginar a fúria de quem recorre à unha e ao dente para se defender...
Verdadeiro retrocesso à primitividade da selva, onde, claro está, não havia pistolas, nem bengalas, nem se jogava ao soco?
Não me parece..."noblesse oblige"!

Já Maquiavel dizia que os "fins justificam os meios".

Carlos Fiúza

Como não estamos tão distantes, assim, de nossos antepassados!...

Anónimo disse...

Não sei dizer se "com unhas e dentes" é das "expressões enfáticas das mais bem pensadas" pelo nosso povo. Mas lá que é uma expressão popular muito usual em todo o país, isso é verdade. E também é verdade que se lhe podem atribuir as mais diversificadas leituras, ao consoante do respectivo contexto. Felizmente, a nossa língua tem essa vantagem: a polissemia, que nos permite, assim, economizar palavras e/ou conceitos e enriquecer, p. ex., literariamente, a semântica (para lá de outros aspectos impossíveis para este espaço). Agora, o que (quase) me espanta um pouco, é a leitura básica, muito objectiva, (redutora?) que Carlos Fiúza nos apresenta em relação a "com unhas e dentes"! De propósito? Desafio? Salutar provocação? Se assim for, aceito com prazer, pois creio que quem ficará a ganhar, será o próprio blogue e seus leitores.
h.r.

Anónimo disse...

Redundâncias e provocação.

Caríssimo h.r.

Touché! Acertou na "mouche"!
No presente artigo, o rigor exagerado da análise lógica é-me absolutamente impossível (condenável). E isto porque, não conhecendo os problemas “reais”, de Carrazeda e das suas gentes, só me posso permitir tratar os assuntos em termos "linguísticos".

A seguir-se o raciocínio estreito dos emendadores das “aparentes” incongruências, ficariam pletóricos de defeitos de estilo os maiores escritores de todos os tempos.

Há uma canção de Camões que principia assim:

“Vinde cá, meu tão certo secretário
Dos queixumes que sempre ando fazendo:
Papel, com quem a pena desafogo.”

Ora, nem Luís de Camões errou quando disse “vinde cá”, nem erra ninguém que diga “à vinda para cá”, nem o que disse “à ida para lá”.
Se, pois, a lógica seca e hirta vocifera que não há "idas para cá", tem de aprender também que não é erro nenhum referirem-se as "idas para lá".

No ponto de vista linguístico, a atribuição de erro à dição é mera infantilidade, própria de quem não sabe que a repetição em jogo derivativo é absolutamente normal.

Convém, por outro lado, não deixar de ver que a redundância pode ocorrer não só com repetições de temas ou de palavras da mesma família, mas também com repetições de ideias, em virtude da precisão do reforço ou ênfase.

Ouvi, há dias, o seguinte dizer:
- Vê lá se cais das calças abaixo.
Cair abaixo. Está mal?
Faça-se o exercício de tirar o "abaixo" nesta frase natural e ver-se-á que o poder descritivo da graça do rapaz perde muito do seu valor.
No entanto, há zelotes que imaginam pela redundância expressões como “cair abaixo",
“subir acima”, etc.

Há muita maneira de dizer que por vezes se julga um tremendo ilogismo e, no entanto, bem analisada, vem a mostrar-se perfeitamente racional.

Quando se não adquire pelo estatuto constante o domínio do idioma, quando se não compreendem as realidades da vida da linguagem com a visão curada de miopias lógicas, vem a facilidade de se cair em fantasias de correção, tão perigosas como as leviandades de indisciplina.

Foi o meu caso...

Carlos Fiúza

P.S. Peço me desculpe esta "faceta" de provocador...
está-me no sangue "terçar armas".

Anónimo disse...

Pois, eu concordo com quase tudo o que diz, só que... eu não fiz qualquer referência a "redundâncias" nem a "incongruências" e tb não pretendi fazer qualquer análise linguística (cadeira que concluí com uns míseros 16 val.). Deve, pois, haver algum equívoco. Contudo, gostei deste seu pequeno texto, estilo urtiga, que parece inofensiva mas pica... Pelo menos é coerente com a sua confessada "faceta"... mas não precisamos de "terçar armas", não acha?
Respeitosos cumprimentos.
h.r.

Anónimo disse...

Meu Caro,

"Touché,encore".
Embora com os seus "míseros 16 val." a Linguística, "apanhou" a aparente e inofensiva urtiga (qual incongruente redundância)como um provocador, nas não de todo inofensivo "equívoco".
Quanto ao "terçar armas" sou "pacifista"... ainda que não deixe de utilizar "unhas e dentes", sempre que necessário.

Efectivamente não fez referência quer a "redundâncias", quer a "incongruências"... fui eu, com a minha "provocação urticária"!

Obrigado por ter respondido.

Cumprimentos,
Carlos Fiúza

Anónimo disse...

Meus caros: deixem-se das urtigas e passem para a bela-luz! Esta sim, é inofensiva. Por isso, até poderia ser aplicada, como logotipo da ONU, face à natureza e aos fins que visa esta instituição internacional.

Cumprimentos,

LVS

Anónimo disse...

Muito esclarecedora esta troca de opiniões

os transmontanos ficaram a ganhar e agora já sabem que se forem lutar com as unhas ficam sem os dentes, sem os terrenos, sem linha e sem nada e a culpa é tão e só do Camões

Bendito trás os montes que tão ilustres filhos tens embora só te chupem

Anónimo disse...

Este último comentário anónimo de "Qui Jul 29" não tem ponta por onde se lhe pegue. Enfim, há tipos que se põem a martelar as teclas sem qualquer nexo e depois saem "bostas" destas... há que ter mais cuidado e respeito por quem dialoga num blogue como este, de gente com valor e sabedoria.
A.S.

Anónimo disse...

Camões e… “urtiga”

Se o leitor quer enriquecer o vocabulário, e ganhar mobilidade no uso de sinónimos, leia as sete dezenas de romances de Camilo Castelo Branco, muna-se de um dicionário e vai ver como o grande Mestre lhe enriquecerá a sinonímia.
Claro que ao ler Camilo, irá encontrar numerosos termos que nem os dicionários registam.
Mas não se aflija com eles.
Os muitos termos aparentemente raros da linguagem de Camilo não impedem que o estilo dele seja natural, pois natural era nesse Escritor a tradução do pensamento por meio de termos que a todo o instante ouvia ao povo do Minho.
A riqueza do léxico não está na busca sôfrega da sinonímia rara e esquisita.
A prosa de Camilo é rica de palavras, mas a abundância do seu vocabulário não é uma abundância mal adquirida nem mal apresentada.

Mal adquirido e mal apresentado é o seu comentário:
-“os transmontanos ficaram a ganhar e agora já sabem… a culpa é tão e só do Camões”.

Comentar a injustiça desta afirmação não vale a pena.

Mas façamos um exercício...
Busquemos uma concordância de pensar entre o que o meu caro anónimo afirmou e o que os dois comentadores disseram (o meu ilustre "opositor" Hélder Rodrigues, e eu próprio)...
E, estabelecido o paralelo, qual a concordância entre o “papel confuso de Camões” (seu) e a “aparente e inofensiva urtiga” (nosso)?!.

A intelectualidade apouca-se e confrange-se quando o sujeito se olha em si, e se desgosta da compostura dos seus vestidos.

O desaire do espírito como que se identifica ao desaire do corpo.
As ideias saem coxas e esconsas do cérebro; a expressão tardia e canhestra denuncia o retraimento da alma.

Demonstrado isto,
explica-se o atavio de palavras do seu comentário.

Carlos Fiúza

Anónimo disse...

Face aos últimos comentários que têm sido feitos acerca de alguns arquitectos da Língua Portuguesa, confesso que começo a gostar, cada vez mais, deste blogue, porquanto, há nele, de uma forma explícita, substância, forma, conteúdo e riqueza linguística.

Entretanto, se me é permitido, Carlos Fiúza, fala-me na prosa de Camilo e na "urtiga" de Camões. Com o devido respeito, sem menosprezo do mencionado, se me é permitido, gostaria de acrescentar, também, Antero de Quental e Eça de Queirós.

Por tudo isto, parabéns e continuem assim porque, estou certo, ficaremos mais esclarecidos e valorizados em termos culturais e afins.

Cumprimentos,

LVS

Anónimo disse...

Arte e riqueza vocabular

Não se julgue que a abundância vocabular seja sempre índice de riqueza expressional.
Um autor pode ser pobre de vocabulário e rico de expressão.
Para prova e ensinamento, vejamos o paralelismo expressional de Camilo e de Eça (por exemplo).
Este, em “Cartas Inéditas de Fradique Mendes”, levantou um problema que nos convém estudar.
A certa altura da carta em que os exageros puristas são magistralmente ironizados, afirma Eça: “Camilo, com o verbo completo de uma raça na ponta da língua, hesita, tataranha, amontoa, retorce, embaralha e faz um pastel confuso – que nem o diabo lhe pega, ele que pega em tudo!”.

No meu entender, é injusta esta afirmação.

Para Eça de Queiroz, “francês de ideia” e “francês de vocabulário” (usando a sua própria expressão), Camilo devia ser um portentoso "caturra".

Mas façamos este pequeno exercício.
Procuremos em Eça e em Camilo uma semelhança de ideias ou de comentários.
Procuremos uma concordância de pensar… um – pelintra do verbo (Eça), o outro – prodigioso caturra (Camilo).
E, estabelecido o paralelo, vejamos se o “pastel confuso” de Camilo é, na realidade, menos lúcido ou menos lógico por ser apresentado “em forma copiosa”.

Escreve deste jeito Fradique Mendes ao alfaiate E. Sturmm:
“… Nada influencia mais profundamente o sentir do homem do que a fatiota que o cobre. O mais ríspido profeta, se enverga uma casaca e ata ao pescoço um lenço branco, tende logo a sentir os encontros dos decotes e da valsa; e o mais extraviado mundano, dentro de uma rede de “chambre”, sente apetites de serão doméstico e de carinhos de fogão”.

Ora, agora, tenha paciência o meu caro leitor e verifique se Camilo na verdade “hesita, tataranha, amontoa, reforça, embaralha e faz um pastel confuso”, neste trecho do “Amor de Salvação”:

“Li em algures, e estou convencido de uma verdade que soa como paradoxo; e é que o espírito de cada pessoa tem muito a ver com o modo como ela está entrajada… Há o que quer que seja fenomenal que eu tivera em conta de desvario meu, se muitos sujeitos me não tivessem confessado semelhantes segredos de psicologia, em que o alfaiate exercita importante alçada. Assim se explicam as palavras ataviadas com que Eleutério se saiu no palratório, no dia em se mostrou desfigurado a Teodora”.

Quem escreve isto sobre Eça e Camilo confessa (para desconsolo dos que antipatizarem com os seus estudos vernáculos), que não é purista; apenas tem a “caturrice” de amar a Língua portuguesa na boca do povo e nas páginas dos bons Escritores.

Apreciou, pois, a mestria estilística de Fradique na prodigiosa habilidade com que, usando termos não rebuscados, conseguiu justeza de expressão, concisão modelar, excelente poder de contraste e de antítese, originalidade expressiva, perfeita disposição das suas afirmações.

Todavia, a “caturrice” de amar a Língua portuguesa leva este humilde admirador de Camilo e de Eça a encontrar relevo, vigor, imagem, vida na prosa vernácula que se classificou injustamente de “papel confuso”.

E, se em Camilo não há "plenitude" de vocabulário, não parece que seja verdade que nele a hesitação, o amontoado, o retorcido venham como consequência da sua riqueza verbal, riqueza ganha aliás mais no dicionário vivo que é o povo.


Carlos Fiúza

P.S. Como bem diz LVS (que cumprimento), a beleza da estilística não acaba em Eça e Camilo...
Quental é outro "monstro" que muito admiro, e a que gostaria de voltar.
Claro que não é em dicionários que se ganha o bom gosto na Arte de escrever.
Mas isto não quer dizer (e muita gente pensa-o) que o Artista da palavra insensatamente se dê ao luxo de ignorar a Língua em que intenta exprimir-se.

Anónimo disse...

Muito bem, LVS e Carlos Fiúza (opositor, eu?!)! E tantos mais autores que nós poderiamos apontar aqui como excelentes exemplos da riqueza e dinâmica da nossa bela Língua! Mas fiquemo-nos (para já) naqueles certeiros exemplos...
h.r.

Anónimo disse...

Meu caro h.r.

"Opositor", sim... no bom e salutar sentido de quem faz oposição.
"His master voice" não dá luta... não lhe disse que me está no sangue "terçar armas"? (também no bom sentido, leia-se).
Como sabe, um dos grandes problemas dos "blogues" (e por isso "fujo" a eles) são os comentários (pseudo) que por vezes aparecem e que não acrescentam nada.

Sei que é impossível (para qualquer blogue) fugir a eles... mas que são impertinentes (chatos) são!

Veja-se como um acontecimento cultural, que se pretendia de relevo - a retrospetiva de Júlio Pomar - passou despercebido (o que me "obrigou” a deixar um comentário).

Fosse uma “disputa” entre a cor das unhas dos pés do Ronaldo…

É a vida... como disse o nosso ex!

Cumprimentos,
Carlos Fiúza

Anónimo disse...

Caros comentadores, h. r. e Carlos Fiúza, verifico que deram alguma importância ao meu léxico, à articulação fonológica e semântica do meu pobre, mas sincero, texto. Verifico, ainda, que em circunstâncias algumas o professor aposentado, h.r., não é, de modo algum, opositor, a não ser que o seja, na verdadeira acepção construtivista e etimológica do termo. Verifico, também, que a essência de onde emerge a substância do “terçar armas” de Carlos Fiúza, não é nada mais, do que a seiva de onde brota, p. ex., a forma e o conteúdo para contextualizar o seu pensamento e acção comunicativa referente à forma como esculpe a palavra, aliás, como o gostava de fazer, a saber, o poeta, Eugénio de Andrade.

Referi no meu último texto, dois arquitectos da língua materna que me são muito queridos: Antero de Quental e Eça de Queirós. Poderia citar outros. Não o fiz pelo respeito que nutro por muitos deles. Lembro-me, p. ex., daqueles que foram nossos conterrâneos: Miguel Torga, Guerra Junqueiro, Trindade Coelho, João de Araújo Correia, e outros. Mas, como o meu enfoque pedagógico e literário incidiu, primeiro, sobre Antero de Quental, se me permitem, convém referir o seguinte:

O nome de Antero de Quental tornou-se no símbolo de uma geração (Geração de 70). É referência obrigatória na poesia, no ensaio filosófico e literário, no jornalismo, mas também nas lutas pela liberdade de pensamento e pela justiça social, onde se afirmou como ideólogo destacado.

Desembarcado em Lisboa aos 10 anos de idade, para estudar no colégio de António Feliciano de Castilho, veio a ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 1859, tornando-se rapidamente no líder dos estudantes e seu porta-voz, sendo o autor de vários manifestos contra o conservadorismo intelectual e sócio-político do tempo. Para esse prestígio contribuíam os poemas e artigos de crítica literária e política que ia escrevendo para os jornais e revistas coimbrãs: "A influência da Mulher na civilização", "A ilustração e o operário", "A indiferença em política", "O sentimento da imortalidade". Os Sonetos de Antero, o seu primeiro livro de poesia, data de 1860, e em 1865 publica Odes Modernas, obra por si caracterizada como "a voz da Revolução", resultante da aliança entre o naturalismo hegeliano e o humanismo radical francês de Michelet, Renan e Proudhon. Manuel Bandeira, poeta brasileiro, escreverá em 1942: "Costuma apontar-se o Eça como o modernizador da prosa portuguesa. Basta, porém, a carta "Bom Senso e Bom Gosto" para provar que se houve reforma da prosa portuguesa, ela já estava evidente no famoso escrito de Antero".

Após a licenciatura, e atraído pelos ideais socialistas de Proudhon, sobretudo, pensa alistar-se nos exércitos de Garibaldi, mas acaba por aprender a arte de tipógrafo, na Imprensa Nacional, deslocando-se depois a Paris, em 1867, para aí exercer o oficio e familiarizar-se com os problemas do proletariado. Em 1868 viaja para a América do Norte (E.U.A. e Canadá) e, no regresso, fica a residir com Batalha Reis num andar da Travessa do Guarda-Mór (actual Rua do Diário de Notícias), o "Cenáculo", como era conhecido entre os amigos: Oliveira Martins, Eça de Queirós, Manuel de Arriaga, José Fontana, Ramalho Ortigão, entre outros. Inicia então (1870) uma intensa actividade política e social. Colabora na fundação de associações operárias e na introdução, em Portugal, de uma secção da Associação Internacional dos Trabalhadores; publica folhetos de propaganda. Nas palavras de Eduardo Lourenço: "Ninguém entre nós pôs mais paixão no propósito de decifrar e ao mesmo tempo emendar o destino português do que Antero”.

Por fim, vou entrar de férias, isto é, vou hibernar. Quando regressar recomeçarei com estes despretensiosos textos, começando por abordar o segundo autor, Eça de Queirós. Ficarei, por isso, grato, se entretanto, forem úteis e do vosso agrado (e não só!).

Cumprimentos,

LVS

Anónimo disse...

Aqui estou em desvantagem em relação ao LVS, porquanto ele conhece-me e eu, embora deva conhecê-lo, não sei (por enquanto) quem é. Normalmente apresenta-nos textos de qualidade e hoje resolveu dar a sua última lição antes de ir de férias. Julgo que ambos somos licenciados em Letras e por isso, compreenderá que não é novidade a biografia aqui apresentada sobre o nosso Antero (também aqui as nossas preferências coincidem). Mas não deixa de ser um excelente e oportuno acto pedagógico para, p. ex., os estudantes ou demais curiosos. Por isso, parabéns e... BOAS FÉRIAS que certamente as merece (mas não hiberne muito, que o Agosto é um ai...)
h.r.

Anónimo disse...

Antero… meu sonho!

Conheci a Beleza que não morre,
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

Minguar, fundir-se sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do Sol, e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o baptismo dos poetas,
E, assentado entre as formas incompletas,
Para sempre fiquei pálido e triste.

Caríssimo LVS

Que pena ir de férias…
Obriga-nos a ficar a “chupar no dedo” até podermos ler a “sua” visão sobre a Obra do meu querido Antero, o grande ídolo da minha juventude!

Boas férias.

Carlos Fiúza