27 fevereiro 2008

Visita do Presidente da República ao interior do país


Não resisto (...Não resisto (...) a transcrever o que Cavaco Silva disse a respeito das desigualdades que continuam a grassar em Portugal. O Presidente visitou, como se sabe, os concelhos de Ribeira de Pena e de Boticas (entre outros), os quais (...) são exemplos de um Portugal fatal e tragicamente esquecido pelo poder central.
O que é espantoso é que ninguém tenha dado o devido relevo a estas extraordinárias afirmações. Ou por que ninguém liga ao que o Presidente diz (e eu não acredito), ou então por que Cavaco Silva não fez mais do que repetir o que muitos anteriores a ele já esboçaram e, por isso, as suas declarações não são mais do que pura hipocrisia política, ou então por que os nossos jornalistas estão muito mais interessados em saber se o Presidente está zangado com Filipe Menezes, por este ter ameaçado romper de vez o acordo com o PS para o chamado "pacto para a justiça". (...)
Em Ribeira de Pena, Cavaco quis dar "uma palavra de alento e de solidariedade" aos que vivem numa situação de interioridade, ao mesmo tempo que elogiou todos aqueles "que não se vergam nem resignam face à distância a que se encontram dos centros de decisão política, à desertificação, ao abandono escolar e ao envelhecimento das populações".
Já em Boticas, elogiou o "vinho dos mortos" que outrora "serviu como resistência ao invasor francês e hoje serve como símbolo face ao esquecimento a que os poderes públicos votam as localidades mais afastadas do litoral".
Ora, são realmente espantosas estas declarações. Não só porque Cavaco Silva faz parte, desde há décadas, de muitos centros de decisores políticos (foi ministro das Finanças, primeiro-ministro e agora Presidente da República), como também são uma crítica directa e clara ao presente executivo, no que a uma verdadeira descentralização diz respeito. (...) Notamos que [estas frases] se enquadrariam na perfeição durante uma visita presidencial a tropas portuguesas estacionadas no Líbano, no Kosovo ou Timor. E é com todos estes ingredientes que se faz a popularidade de um Presidente da República.
J. Ricardo
Torre de Moncorvo
no Correio do leitor do Público

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