O André Lages era uma "figura" de Carrazeda de
Ansiães.
O André era o comerciante que vendia tudo o que o
carrazedense necessitava: o bacalhau e o polvo para o Natal; o parafuso e o
prego para a bricolage caseira; a pedra
de lousa e o pilão para a escola primária; o pesticida e o herbicida para a
horta; a “nabinha” e a semente para o “renovo”;
o unguento e a mezinha para o padecimento, o baraço, a vassoura, as
tenazes, o Borda D`Água, o rolo fotográfico, o tabaco, as pilhas, a fotocópia……
Podia-se procurar por todo lado, porém o que faltava só se encontrava na “Casa
Lages”. Durante longos anos foi autossuficiente para todas (ou quase) as
necessidades do concelho. Porque ele tinha um sentido incomum de antecipação e
oportunidade!
Nos tempos “heroicos” da Rádio Ansiães procedia à
transmissão das emissões da liturgia de domingo valendo-se da sua arte para
produzir e modificar os mais variados apetrechos de recolha do som das missas
num intricado, meticuloso e elaborado circuito, que, por mais estranho que nos
parecesse, captava todo o enredo sonoro da Igreja Matriz. As manhãs de domingo
abriam com a missa dominical sob a orientação técnica e os comentários
inconfundíveis do André Lajes. Aos Sábados comentava a atualidade religiosa num
programa radiofónico que produziu durante anos.
Tudo era registado em escrita: o tempo do ato religioso, o número de
presentes, os elementos do coro, a duração da prédica do saudoso padre
Virgílio, as canções, os incidentes técnicos, as músicas difundidas. Tudo registado
para memória futura.
Mas o que mais me espantava era a sua organização num
comércio que parecia desorganizado. Tudo tinha o seu lugar, devidamente
etiquetado com todas (e mais algumas) as notas que respeitavam ao artigo. Qualquer
solicitação não recolhia muita espera tal a rapidez com que o mercadoria era
encontrada. A organização, o sentido prático e a inventiva tinha visibilidade
no seu famoso lápis, que era esferográfica, borracha, navalha, alfinete, chave
de fendas…
E a bicicleta (um auto em circulação para evitar a poluição,
substitui descapotável ou furgão, dá saúde ao coração) era a imagem do André:
frugal, utilitária, engenhosa, imaginativa e, perdoem-me os mais sisudos, até
infantil, por isso, a ternura em movimento.
Carrazeda perde o André e com ele vai um pouco da nossa alma
carrazedense. Descanse em Paz!
E assim partiu uma figura carismatica que pela sua metodologia e estilo muito proprio,negociante das necessidades mais variadas numa terra tão carente, este comerciante conseguia com a sua originalidade, valer ás mais variadissimas solicitações.
ResponderEliminarTodos os Transmontanos e em especial os do meu concelho Carrazeda de Ansiães, deveriam unir-se em defesa do futuro para esta terra maravilhosa, de gente simples e hospitaleira, poque quando tal, deparamo-nos com um concelho deserto, e uma terra sem gente pura e simplesmente morre!
É com especial pesar que tomo conhecimento da morte do André. Meu companheiro durante algum tempo na adolescência, um amigo ao longo de uma vida.
ResponderEliminarE nestes anos de mudança, em que os pequenos comerciantes foram postos à prova pelas grandes superfícies comerciais, o André, seguindo uma tradição de família, resistiu com imaginação e manteve aberta uma porta onde se encontrava o mais inimaginável, para além duma simpatia e boa disposição que eram a verdadeira marca da casa.
Que descanse em paz.
ResponderEliminarCarrazeda ficou mais pobre.
A morte do Sr. André, figura de relevo pela sua originalidade,pela forma rara e invulgar como geria a CASA LAGES -PONTO CHIQUE.
Este estabelecimento éra pela sua mão, uma referêcia para todos os Carrazedenses,não é facil encontrar-se um comércio com estas caracteriscticas em qualquer parte do mundo, a sua morte, e com ele eventualmente a sua CASA, é mais uma forte machadada nesta aínda vila, por enquanto.....
Que Deus seja com ele generoso e muito obrigado pelo seu testemunho.
Haja alguem que lhe siga os passos, ou pelo menos que tente,para que estes exemplos não se deixem morrer.PAZ á sua alma.
ResponderEliminar-Ser livre!
ResponderEliminarÉ poder dum momento
para o outro
fazer a mala
e partir.....
não importa para onde
nem se há regresso.
Partir!!!E é tudo!!!
Sem ninguém a impedir que o faça.
-Sim,ser livre é tudo isso e tudo isso é desgraça.!
Tenho saudades do amigo ANDRÉ.
Mais um amigo que partiu, por esta já longa avenida de ciprestes onde só já crescem memórias.
ResponderEliminarO André foi meu condiscípulo durante um período breve, mas foi um amigo de toda a vida.
O seu trabalho dedicado permitiu-lhe, com muita imaginação e simpatia, resistir à imparável destruição do pequeno comércio pelas grandes superfícies e continuar a actividade de seu pai.
Aqui deixo os meus sentimentos à família. Que descanse em paz.
O Andre partiu, mas o Ze Lages ainda ca esta, quem se lembra de ir tomar um cafe e partilhar da sua companhia por 5 minutos que seja ao Mogo? Pois e quem nao e da terra e veio REtornado fala fala e pouco diz, porque nao sente......
ResponderEliminarBom Natal Mesquita
As pessoas que amamos não morrem, apenas partem antes de nós.
ResponderEliminarDescansa em Paz
Abcdesporto/C.Fernandes